Foi por esta altura das vindimas que o "Miseravel" apareceu ao cair da noite com malhas no corpo pelo descascar do pelo, coxo e alquebrado, porventura sedento e esfomeado.
Vinha de cima, do alto dos Valagotes e mal entrou na aldeia, quase num ultimo suspiro, nao da alma mas do corpo, encostou ainda no lusco fusco, na paragem da carreira.
Fino, melhor esperto, pois no meio da agonia ainda teve o faro de que ali chegava uma carrinha que tanta barriga enchia, sem um olhar de caridade. Tal houvera, sorte a dele, mas de tal nao era membro.
Chegou a apitar, descarregou e arrancou, ele ali jamais ia caber naquela coisa de gentes, mas porventura e com esperanca, ao lado existe um caixote, do lixo, claro e quem sabe se alguma coisa aprouvesse. Tivera genica para tal.
Cai a noite e mais que esmorecido, recorda num lampejo os fulgores de outrora, tempos em que dominava a serra, os rebanhos e guardava de igual modo o respeito ao patrao, o mesmo que ele lhe dava e devia
Tivera a sua prole bem cuidada, aventureira e audaz, temido em terras galegas, mas as coisas nao correrrm a preceito.
Agora estava num povoado de gentes desconhecidas de caras, mas por ele e os seus ouvidas naquelas conversas da noite, nos montes e penedias, havera gente de bem, coisas tao fortes da vida que ainda bem que nao fala, pois aquilo que ouvia...
Como mataram o Joao do Alecrim com uma sachola e cujo pai andava com a sua mulher, os santos da Senhora pelo padre roubados e o gajo da pide que no coberto da noite inventava coisas sem a aldeia saber para os filhos de Lisboa pagaremn no xilindro...
Um bandido reles.
Ia vindo com a Perpetua ate ao largo esperar os nossos pais que vinham de partilhar o celebrar na igreja, a missa do setimo dia da nora do Joao Alecrim. Era ele o Miseravel cao,testemunha por ouvir, mas sem poder intervir por nao falar e calar, que remedio. Foi na semana anterior a esta missa que ele chegou a S. Pedro, no inverso dos caminhos de Santiago do qual havia partido tantos e tantos dias antes, de Padron, Santiago de Compostela, no seu proposito de encontrar e conhecer o filho Farrusco, do qual ouvira falar encostado na sombra de um botequim, a uma cigana de nome Luzia, amante do Geraldes de Trancoso. Era um "peste" conhecida por alturas do S. Bartolomeu, traficante de tudo e de todos. Por tal este calvario, ia seguindo de vez em quando a pegadas do Geraldes, para nao perder o tino, sempre no maior cuidado, pois uma bala perdida do seu alcabuz, Deus nos acuda, mais ainda quando pressentiu que este se havia apercebido dos seus caminhos.
Adiante.
Por volta das nove, hora de acabar a missa, uma algazarra de caes a ladrar e latir para os lados da igreja, volume que vinha subindo em vertigem rumo ao largo aonde eu e a Perpetua haviamos chegado, quase no momento exato em que o Geraldes erguia a sua faca para finar o Miseravel.
Atrapalhado por da ma fama ser reconhecido, fugiu na noite escura.
E nos dois, canalha aventureira, conseguimos levar este bom cao ate ao patio da minha mae, quase de rastos.
Precisava de cuidados, principalmente comida e bebida e no outro dia se veria, mas o lugar estava ocupado...
Ali vivia o Farrusco!!!
Boa noite.