O pião, rei de brincadeiras |
Entre o nascer e começar a gatinhar, tombo aqui, cabeça rachada acolá, vão valendo as recordações guardadas no bonito, sereno e terno colo de minha mãe.
Este hiato de tempo, é o que vadia entre as estórias e parcas recordações da meninice, tipo lusco-fusco, até ao despertar para a vida real,
Quase meia dúzia de anos no crescer e reinação, tão iguais nestas idades, puras, simples, genuínas, mas tão alegres e sadias.
A minha irmã Lurdes, tinha quase quatro anos de vantagem sobre mim e para ela eu seria na altura o "Nenuco" para brincar, mesmo à mão de semear, mas sempre sob o olhar atento de minha avó Maria, com quem sempre dormi até ela morrer e eu ainda criança aprendi, melhor, fui obrigado pela tradição a rezar antes de dormir.
Hoje continuo e dou graças por isso e por ela, para mim uma santa.
Mas o tempo voava mais rápido ainda que as nossas pernas esguias, correndo para o rio Dão, poça da Eira, sítio predilecto das tropelias, arrrenegando as lavadeiras nessa senda de miúdos carrapatos, como nos chamavam por nadarmos despidos. Provocávamos na nossa inocência malandra e riamos até chegar a casa, quais heróis da reconquista, até a mesma se dissipar num par de nalgadas no rabo, dado pelas nossas mães.
No fundo, agora visto à distância, nem era castigo pois parecia saber a candura e porque não, um pouco de cumplicidade.
Coisas de mães...
Nestes entretantos, já nos sentíamos os mestres das brincadeiras, ninguém nos ganhava à xona e se atiravamos o pau tão longe, sabíamos o truque, pouca força e muito jeito.
No correr com o arco, era surrupiar a roda de um bicicleta abandonada, ou não, e dobrar bem o arame para o fazer correr e ainda aproveitar e isso a gente, como se tal já fossemos, aproveitar a câmara de ar rota, para fazer as atiradeiras, sim as que conhecem por fisga, e arrasar o sítio dos Olivais, na busca da glória das nossas caçadas. Miséria, valia a xinchada de tirar pela sucapa uns figos e umas uvas, enfim, só vitórias.
Sério, mesmo sério, com direito a lutas a valer no despeito do perder, era o jogo do pião.Tudo do melhor e mais moderno, mesmo que o dito fosse feito com uma faca e uma podôa..
Daqui irá partir meu próximo testemunho.
Que lindas tuas recordações daqueles tempos onde tudo era só brincadeiras, daqui e dali. Muito bom ter pra lembrar! E agora, esperaremos os piões...abraços,chica
ResponderEliminarTempos lindos, Chica.
EliminarE sabe tão bem lembrar...
Abraço.
Que saudades Xico!
ResponderEliminarCada tempo tem as suas coisas positivas, mas acho que as crianças (nós) que em conjunto brincaram nestes anos foram mais felizes. Não ficava-mos fechadas em casa como agora sucede...
Não digo que as crianças de hoje não sejam felizes e se calhar quando tiverem a nossa idade vão lembrar com a mesma nostalgia dos jogos electrónicos que hoje jogam, mas acho que crescem rápido demais e é pena, porque esta fase de quando se é criança não volta mais e o que restará depois são as lembranças e, por isso mesmo, que essas lembranças possam ser lembradas como a melhor fase na vida de alguém.
Beijinhos
Tempos diferentes Paula, mas se calhar sabendo na mesma bem, mas de maneira diferente.
EliminarNós tivemos o privilégio de viver e sentir o quotidiano de uma aldeia tipicamente rural, que dava tudo para uma infância sadia e feliz em que por vezes apenas a força da natureza nos obrigava a ser mais comedidos.
Mas não trocaria isso por nada deste mundo a que chamam moderno.
Beijo.
Na Lameira jogava-se a tudo, as meninas à macaca, avião, com a bola de pêlo; ao berlinde, pião e à chôna, os rapazitos; mas no fim da tarde todos nos juntávamos para jogar ao “rou” ou "rô-rô" ?? (ou seja, às escondidas) e e creio eu que era a brincadeira colectiva que mais jogávamos.
EliminarUm de nós ficava com a cabeça baixa sobre a esquina da casa do tio Augusto Marques ou da tia Adélia, e enquanto contava até 10 ou até 20, todos os outros toca a esconder-se, no fim da contagem dizia: «rou, rou, penicou, passarinho já lá voouu» e desatava à procura e ganhava quando os encontrasse a todos. Andávamos horas seguidas nisto na Lameira, era até os nossos pais nos chamarem para cear!
Recordar é Viver!
Tão boas brincadeiras, Xico...
ResponderEliminarTambém tenho lindas lembranças da minha infância, inclusive com piões, bola de gude e pipas...
Gostei muito de saber mais um pedacinho da sua história... E vamos adiante que vêm capítulos novos...
Abraços e boa tarde...
Obrigado amiga Anete.
EliminarVirão com toda a certeza.
Abraço.
Xico! Que recordações ternurentas de uma infância seguramente feliz!
ResponderEliminarBeijo
Claro que foi Nina, muito feliz e preenchida. Como a tua deve ter sido.
EliminarApenas o malandro do relógio era tão rápido que parecia roubar dias...
Beijo.
Boa tarde Xico, nem sei mesmo porquê, mas fico sempre de lágrimas nos olhos a ler o que escreve de forma tão genuína que me parece cópia fiel do que via na minha aldeia!
ResponderEliminarDigo que não sei, mas sei!
É que a infância de que desfrutei até aos 13 anos foi cortada abruptamente na nossa vinda para estes lados! E doeu tanto!
Depois, catorze anos sem ver os meus avós maternos!
E as amigas de brincadeiras, do jogo das pedrinhas, os banhos no rio Tejo com as mães a vigiar por perto e tantas outras coisas!
Mas Xico não estou aqui para falar de mim, mas sim para lhe dizer que estou encantada com o seu poder narrativo!
Fico a aguardar a continuaçao! Abraço, Ailime
Olá Ailime, obrigado pela companhia.
ResponderEliminarTambém fico um pouco comovido ao escrever estas simples linhas com tão pouco alinhamento literário.
Um pouco de nostalgia no recordar a felicidade vivida tão bem, que parece estar a renascer em cada frase.
Também esse quotidiano me foi cortado terminada a primária e ter de sair para estudar fora.
Tal pássaro engaiolado que se vingava nas lágrimas da saudade.
Lá irei!
Abraço grande.
Com que então, pescador?
ResponderEliminarGostei!
beijo
Nina, o mar é tumulto, tranquilidade, paz e revolta.
EliminarQual espelho de emoções.
Gosto de pescar, não só pelo peixe, mas sobretudo por momentos de reflexão.
E quando o sol começa a beijar as ondas...
Beijo.
Recuerdos de la Infancia, de aquella Infancia en la que se hacian Amigos en la calle y todo era más sociable que ahora, donde impera el Individualismo de los juegos electrónicos en solitario.
ResponderEliminarMuy buen Post.
Abraços.
Olá Xico,
ResponderEliminaras recordações da infâncias são as mais saudosas. Oh idade terrível, sem medo de nada. Deves ter inúmeras histórias das travessuras que fazia hein. Tu sabe que em minha infância eu pegava animais no campo e saia em disparada. A mãe ficava braba por que eu fazia as vacas de leite de montaria. Me xingava por que eu parecia um guri. Nem meus irmãos homens faziam tanta arte.
Xico essa semana pensei em ti, te falei que meus bisavós vieram de Portugal. Tem uma moça que está fazendo um estudo dos portuguese que fundaram nossa cidade Mostardas. Ela teve ai em março, adorou e quer se mudar para Lisboa. Mas voltando ao assunto, meu bisavô João Luiz de Araujo, construiu a igreja matriz de Mostardas, levou o material todo a carreta de boi. Vou fazer uma pesquisa para ver de onde ele veio, meu pai falava que era da ilha da Madeira. Depois que meu pai faleceu minha mãe colocou todos documentos dele fora e também a documentação de toda família Araujo. Meus irmã está obstinada para encontrar tudo sobre nossa família. Bem depois continuo. Se tu descobrires algo sobre os Araujo me fale.
Bjos e tenha um ótimo fim de semana.
Olá Anajá, sobre travessuras, várias para narrar nos próximos dias. Umas que vinham inesperadas e se aproveitavam, outras, planeadas, refinadas e muito mais saborosas..
EliminarSobre o teu bisavô, pelo que expões, pessoa empreendedora em prol da comunidade, se puderes manda mais elementos para facilitarr a pesquisa da família Araújo
Ok?
Bom churrasco, abraço.
Quantas boas recordações!Para as crianças brincar é coisa muito séria!Bjs e bom fim de semana,
ResponderEliminarCompletamente de acordo, amiga Anne.
EliminarVotos de bom final de semana.
Abraço.