Esta imagem ou idêntica, fui assimilando nos dias seguintes. Qual cornetim numa parada militar, havia que saber ler o seu toque e obedecer às suas ordens. Estava tramado!
Depois de "apanhado" e a família já ir de regresso a casa, chamei-lhes malvados e outras coisas que me contenho em dizer. Ia ter de ficar naquele monstro de cimento, sem ouvir o urrar das vacas por debaixo da casa, na loja, sem o cheiro do fumo das chaminés queimando lenha meia verde, muito menos a algazarra da minha tribo, ladeira abaixo junto a minha casa, montados em carrinhos de rolamentos. Tudo me passava pela cabeça nestes momentos. Caramba, que havia feito para ser operado sem anestesia?
As "irmãs", eram carinhosas, sorridentes, como que emanando felicidade e tentava perceber o porquê e nestes momentos de revolta aquilo não fazia sentido. Mais tarde vim a ter-lhes muito respeito, mais que merecido.
Havia que "conhecer os cantos à casa", casa enorme que um prefeito fez questão em fazer de cicerone,começando pela capela moderna, sem os dourados e queridos santos da igreja de Forninhos, até deles já sentia falta, quem diria...mas vinha para ser padre e num último ânimo imaginava-me importante a perdoar pecados àqueles que davam açoites por roubarmos frutas e sabe Deus que mais. Iam levar uma penitência pesada para aprenderem.
No mesmo piso, as salas de aula, sem aquelas carteirinhas de madeira da já minha querida escola primária.
Três ou quatro dezenas de quilómetros de distância e este era outro mundo. No piso seguinte, entre gabinetes e tanta coisa, a sala de estudo, enorme com tudo alinhado e o prefeito mostrou a minha. Até tinha gavetas e lá estavam os livros arrumados, até o de latim a tal língua morta! Socorro, se calhar já não vou poder falar, ao que cheguei...
No piso superior, as camaratas, metes a roupa neste armário, o teu, vês o nome?
Ensinaram a fazer a cama, as dobras dos lençóis e a partir de amanhã, estás por conta, haverá revista.
Era informação demasiada, hoje diria que um treino para prestar serviço no Paquistão, eram fanáticos.
Gostei de uma coisa, a parte ao ar livre, campos de vários jogos, piscinas (sem os peixes do meu rio Dão),
e um pouco mais longe, campos de cultivo e uma vacaria, disseram que o seminário era quase auto-sustentável. Já estava a ficar mais animado quando um som estridente, qual alarme dos bombeiros em caso de incêndio ecoou para mim sinistro, parecendo derreter as primeiras neves da Serra da Estrela, aqui ao lado.
À pergunta do que era, célere veio a resposta; o sinal da vossa vida aqui, andar a toque e horas.
E pensei, será assim o chamamento Divino? Oh, valha-me Deus...
A segui virá a primeira noite e dias seguintes!