Era assim, na despedida do verão, a ansiada festa das vindimas.
Na época, reservada aos familiares e amigos que se ajudavam mutuamente. Hoje vens à minha vindima, amanhã vou à tua.
Na frente do rancho de pessoas, era ver-me a mim e à Zita, amiga do peito, mais que irmã, a "roubar" os muscateis, sim, esses cachos sagrados que as donas levavam para casa, para pendurar e guardar. Tão bons depois de secos.
À noite, a pisa no lagar, homens de calças arregaçadas e nós catraios a espreitar e ouvir as cantigas brejeiras em jeito de desgarrada.O sonho era um dia ser grandes como eles.
No entretanto das vindimas e depois de apanhar os bagos do chão, trabalho de crianças a quem os rins não davam achaque algum, havia que ir em busca das agudes, essas formigas de asa que tão fundas estavam na terra. Era preciso cavar e cavar, e quando por entre o formigueiro algumas apareciam, era ouro a meter numa caixa de fósforos vazia.
Os tralhões já pinchavam insistentemente, como que apelando ao duelo, venham apanhar-me se puderem.
Tontos e taralhoucos.
Cruzavam o oceano com as andorinhas e faziam diálogo. As andorinhas perguntavam: para onde ides vós ó loucos que ides muitos e vindes poucos; ao que eles retorquiam: e de onde vós ó putas que ides poucas e vindes muitas. Coisas da passarada, mas com nexo. Uns vinham nascer, outros vinham morrer.
Era aqui nesta armadilha que eles vinham cair.
Poderá parecer desumano, mas nós crianças (e porque não também os adulto) aproveitava-mos a época desta caça.
Manhã cedo, já colocávamos as agudes no pincho do custiilo, para depois, sacho na mão, palmilhar caminhos, hortas e lameiros, volta e meia uma verdoada de cajado no costelaço por pisarmos as sementeiras de nabos recém-nascidos ou a erva semeada para no inverno abastecer o ganau, cabras, ovelhas e vacas.
E por entre figueiras, macieiras e oliveiras, lá íamos espreitando se o custilo se tinha portado bem.
Fazíamos história pelo número da caçada e das melancias roubadas por o calor ainda apertar e as uvas rebuscadas fazerem sede. Ainda havia uns figos mais tardios e uma ou outra maçã. Tudo "marchava"!
Esta trilogia de princípio de outono, culminava com a procura dos tortulhos, esse cogumelo mágico que um dia nasce, no outro desaparece.
Nós, crianças, sabíamos os sítios, naquele lameiro debaixo dos marmeleiros, naquele silvado à beira da vinha e, principalmente nas barrocas junto aos castanheiros.
Cada tortulho era um achado e notícia em Forninhos.
Fulana e cicrano, levavam um balde quase cheio. Corria a notícia!
O meu pai adorava este pitéu. Lavados e colocados nas tempres sobre as brasas, apenas com sal. Retirados do lume, eram espremidos para soltar a água que retinham e com mais umas pedrinhas de sal, voltavam às tempres. Imaginem uma fatia de broa e azeitonas a acompanhar...
Lembrei-me destas coisas por ser o tempo delas.
Um obridado ao Blog dos Forninhenses pelas fotos amavelmente cedidas.