O Farrusco ainda faz das dele, o Miseravel mal se arrasta e as filhas, bonitas e caprichosas, migraram para as bandas de Castendo sendo agora cadelas vedetas da noite. Diz diz ele que o envergonham na sua e em parte, nobre linhagem castelhana. Devaneios vividos em terra de "Nuestros hermanos", penso eu agora que o vou conhecendo e por de mim precisar, se solta de lingua de fora, escorrendo avidamente por uma guloseima a que nao resisto em dar. Adora os coiros do presunto que degusta a compasso do fumar do meu cigarro, calados ambos sob o alpendre.
E assim ficamos perdidos no tempo fresco, ainda, pois a Pascoa este ano vem cedo.
Sinto que quer falar, eu ansioso por o ouvir, pois no seu olhar toldado em final do dia, sentia em mim um estranho frenesim, uma especie de algo ruim que iria ser ladrado, afinal ele nao andava bem, como que se queria despedir do mundo, mas com remorsos de algo. Olhou para mim com aquela languidez de culpa e uma lagrima mal escondida que lhe molhava os bigodes sacudidos e contou...
Tobias
Haviam enfeitado a entrada da casa, o patio com lirios e alecrim pois no dia seguinte, Pascoa, haveria a visita pascal e tudo devia estar a preceito. Trabalho feito e manjares arrecadados, as pessoas foram para casa. Tu, cao pequenote, estavas encavalitado em cima do muro, assustado pelos barulhos da despedida e eu junto ao calor do forno aquando fecharam as porteiras. Eu dentro e tu fora ao frio, podia ter ladrado para repararem em ti, mas ainda hoje nao percebo...".
Ainda antes do Miseravel isto me contar, havia a suspeita de serem irmaos, o que se veio a confirmar. Sinto a sua dor, como se fosse minha, pois na manha seguinte quando me levantei, o Tobias havia desaparecido. Gritei ate o tio Esmael me dizer que havia visto dois lobos a arrastar o cachorro, ainda de madrugada. Mais tarde o tio Domingos vindo de ordenhar as ovelhas confirmou os seus restos.
Vida de cao!