quarta-feira, 30 de setembro de 2015

VIDAS QUE O TEMPO VINDIMA

Olha, fora vivo o teu pai e a esta hora ja toda a gente aqui se tinha ajuntado.Que coisa, quase oito da manha e com pouca orvalhada, deviamos ir a caminho da vinha de Valongo. Muito faz a minha prima Agustinha, tua mae, anda "fina" o raio da mulher, mas sabes, a gente vai acabando e as pessoas falhando nas vindimas, hoje para mim, amanha para ti.
Aqui, aonde me tiras a fotografia, me encosto vai para setenta anos e quase sempre o primeiro a acordar com um calice de aguardente e uns mimos.
Sabes, primo, a familia vai morrendo, mas morrendo os amigos, acaba o mundo.


Agora somos gentes de outro mundo.
Acredita que tenho medo de ir para o cemiterio, nao da morte, mas por me poderem desenterrar e como dizem os doutores para estudos...
Eu e tantos quase nem aprendemos a ler. Mas damos cartas a qualquer um, assim aceitem o desafio.
Uns mal educados, outros muito bem vindos por virem por bem aprender com esta gente pobre, que nos somos. Mas honrados.


Que este mestre pintor nos cante o colorido da nossa vida, que teve mais alegre que triste e por tal me disponho a mostrar a minha mao, igual a tantas outras e o poeta nos pinte aqwueles cantares de outrora.
Vai guardando estas coisas, primo.
Conselho de um velho e acredita que ja nao posso voltar a vindima da minha prima.
As pernas ...


Este ano, o tio Porfirio "faltou", melhor, as pernas dele.

12 comentários:

  1. Que pena quando começam a "faltar"...Pena! Lindo post! abraços,cjhica

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    1. E mais grave, amiga Chica, as pernas nao obedecerm a cabeca...
      Fica o sentimento. Eterno.
      Beijo,

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  2. A vida do teu primo Porfírio e de outros mudou. A população agrícola está envelhecida e já não pode trabalhar as terras, porque se pudesse não deixavam as suas vinhas abandonadas, até porque hoje, com a ajuda das máquinas, os trabalhos não são tão duros como no passado. As pessoas mesmo idosas têm vontade de participar na "festa da vindima", mas o problema é mesmo a força nas pernas e braços que começa a faltar!
    Beijo!

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  3. Um texto realista e tocante! Ah, fragilidade do ser humano! Ficam as boas lembranças e "curtições" outras... O tempo passa e nossas "aventuras" precisam ser dosadas segundo a fase...

    O meu abraço... Felicidades...

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  4. " A família vai morrendo, mas morrendo os amigos, acaba o mundo". Sábias palavras de um primo já com muitos anos de pernas, e alguns anos de perdas, com certeza. Gente antiga, com pouca ou nenhuma escolaridade, mas com tanto para ensinar. Gente de um tempo em que a honra fazia sentido.
    O que me comove é a subtil tristeza de já não poder ajudar na vindima porque as pernas já não lhe obedecem à vontade.
    O seu primo ficou muito bem sobre a parreira. E como ele disse, guarde tudo, as pinturas, todas as imagens, os cantares, e a poesia. Guardando também no coração o afecto e os ensinamentos dos que sabem mais do que nós.
    Muito bonitos estes textos de homenagem a figuras simples, e importantes na sua singularidade.
    Bom fim de semana, Xico!
    xx

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  5. É meu amigo Xico, o tempo passa e não espera, rsrs.
    O seu texto é uma verdade, as pessoas vão faltando, e quem vai ficando, vai sentindo essa falta, meu sogro que está com 90 anos, falou uma vez que se não fosse os filhos e a esposa, a vida não teria mais sentido, pois os amigos todos já se foram, vi uma tristeza nos seus olhos, sabe quase chorei.
    Beijos!

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  6. Por unas razones u otras los tiempos han cambiado, y ahora todo se realiza de una manera más mecánica y artificial. A veces recordando esos Tiempos se suspira por ellos y se piensa...¡¡¡Que Tiempos más buenos y plenos de armonía!!!
    La Vida es así. Los Ciclos se van terminando y los Recuerdos se van extendiendo por nuestra mente, al igual que los dolores por nuestro cuerpo.
    Dentro de poco tiempo volveré a publicar.
    Siempre es un placer poder visitar tu espacio y saber nuevas de ti a través de tus comentarios...Eres un Amigo con letras mayúsculas y sabes que te aprecio un montón.
    Abrazos.

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  7. Custa muito ver envelhecer! Bons registos e belos olhares!

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  8. Custa muito ver envelhecer! Bons registos e belos olhares!

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  9. Custa muito ver envelhecer! Bons registos e belos olhares!

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  10. Como gosto de ouvir a nossa gente! A cidade tolhe-nos as veias com o ar a cimento...Morrer? Claro que é escuro. E a passagem deve ser estranha...
    Agora outra coisa! Ir a sua terra? E que maravilha. Os ares e o sol e os farruscos e a senhora da igreja...Castanhas? Presunto? Broa? Ufff! Sei o que isso é , Xico. Por isso é que estou aqui com "raiva". Não me apetece subir a serra! a minha.
    Abraço amigo!

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  11. Como gosto de ouvir a nossa gente! A cidade tolhe-nos as veias com o ar a cimento...Morrer? Claro que é escuro. E a passagem deve ser estranha...
    Agora outra coisa! Ir a sua terra? E que maravilha. Os ares e o sol e os farruscos e a senhora da igreja...Castanhas? Presunto? Broa? Ufff! Sei o que isso é , Xico. Por isso é que estou aqui com "raiva". Não me apetece subir a serra! a minha.
    Abraço amigo!

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