sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

RUÇITO, O AMIGO DE FARRUSCO.




A primeira vez que havia visto o puto, ia ele assentado na parte detrás do carro das vacas do seu avô Justino da Miquelina, baloiçando as pernas ao  ritmo dos solavancos ditados pelos buracos do caminho rude que conduzia lá para o cimo da serra de S. Pedro.
Extasiado, assim me pareceu aquando comigo e com meu pai se cruzaram  no Alto dos Pinheiros a puxar para o lado dos Valagotes e tal como nós, iam para as sementeiras.
Atento ao que o rodeava, ele menino da cidade, pareceu-me saber escutar o silêncio apesar de algum espanto que vislumbrei quando a natureza se soltava em gargalhadas da passarada e dos gritos de quem de aguilhada na mão, dava rédea curta aos animais para acautelar uma boa chegada ao destino.
Com o tempo e quando ele vinha de férias, era por ali que o ia encontrando, menos menino e mais afoito, ao ponto de por vezes m acompanhar, serra acima, o que era e é duro, mas via que ele gostava e um dia dei-lhe a conhecer o Farrusco. Acho que este nao gostou, quiçá por ciúmes, mas gradualmente foi-se habituando e fiquei feliz no dia em que os vi a brincar juntos, como duas crianças, mas mais feliz por entender que aos poucos o Farrusco ia  suportando de modo mais leve as suas desgraças, embora sem as esquecer.
Ficaram amigos, ele e o Ruçito.       


Ao seguir deste Natal frio de rachar, e depois do que se havia passado comigo e com o Farrusco, tal com contei no post anterior, veio uma aberta de sol de apenas quase um dia e bom, vou ver se apanho uns míscaros e quem sabe veja como está o meu amigo lá para cima, nas terras de cotovias de dia, de corujas,, lobos,e raposas de noite  e lendas...
Para baixo, nas quebradas, as badaladas do toque do sino  anunciavam o meio-dia de um céu azul intenso a que uns desperdícios brancos de nuvens, aqui e acolá, mais abrilhantavam.
Ele há coisa que por vezes o entendimento não acompanha de forma alguma. Nem a ciência, apenas o coração.
Do lado esquerdo, por debaixo da cadeira do rei e por entre os lameiros e a orla do pinhal, estavam estes dois amigos como que me aguardando com uma cesta de míscaros.
Sim, há coisas...
Acho que eles disseram que era o meu cabaz de natal.


5 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  2. De tanta saudade do avô Justino ao despertar da amizade do
    Farrusco , com " ..apenas o coração.."

    Abr
    MG

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sabe António, volta não volta venho por aqui falar com um cão especial, tipo fábula que no inventar de coisas que perdidas, se sintam reais.
      Não temos um Coliseu de admiradores, mas muito mais que isso: uma enorme serra de sonhos e esperança a nosso modo e aonde acolhemos um mundo inteiro.
      Um cantinho...

      Eliminar
  3. Assim ... o menino da cidade conquista o seu lugar na aldeia onde o tempo para e a magia nasce a cada dia!!!
    Com o coração se recorda e nos transmite emoção na escrita!!!bj
    ...
    Se gosta de queijo ralado … veja as entradas que preparei:
    ttps://ospetiscosdagracinha.blogspot.pt/2018/01/entradas-de-chuchu-e-queijo-ralado.html
    ...
    E aqui … mais um belo recanto português:
    https://crocheteandomomentos.blogspot.pt/2018/01/ponte-medieval-do-marnel.html
    ...
    Que seja uma semana bem HARMONIOSA!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E cada coisa coisa se conquista no tempo a seu modo, não é Gracinha. Afetos e deleites...
      Beijinho.

      Eliminar