A " Maligna"
A memória cognitiva de cada um, difere.
Apega-mo-nos ao que os mais velhos reportam, por vezes complacentes no bem dizer.
A isso recorro para transcrever aqui a continuação da minha história.Após "ressuscitar", a maldita febre ainda estava arreigada, raivosa e despeitada, procurava porventura saber como eu tinha escapada das suas garras maléficas e furibundas.
A "safada", apenas tinha feito uma pausa. pois volvidos dois dias, voltou em dobrado. Havia que parar a maligna.
A minha avó materna tinha conhecimentos mais ou menos próxima, de uma senhora influente da circunvizinha aldeia de Dornelas, distante a meia dúzia de quilómetros.
Sabia que o filho dela, dr. Francisco Varela, recém- formado em Coimbra em medicina, usufruia uns dias de descanso na terra natal.
Lá chegadas, já noite, cansadas mais pela angústia e desespero do que pelo palmilhar do caminho em que se revezavam no colo, bateram na casa senhorial.
- Quem é, perguntou a criada.
- Sou a Maria Lameira de Forninhos e queria falar com a senhora, respondeu minha avó, ao que a criada retorquiu:
- Vou saber se pode atender.
Pausa, ansiedade, no silêncio quase eterno da expectativa, apenas quebrado pela minha tosse intermitente.
Passados segundos, aqui uma eternidade, apareceu a senhora que ao ver minha avó, exclamou surpresa:
- Tu por aqui, Maria, que te traz?
- Minha senhora, trago o meu netinho que esteve para ser enterrado por causa da febre e soube que o sr. douto cá estava e vim ver com sua permissão pedir se o podia salvar.
- Entra Maria, essa que te acompanha parece ser a tua filha, há tanto tempo que vos não via...
Com os ruídos, o sr. doutor veio indagar o que se passava.
- Olha Francisco, esta senhora é amiga da família há muitos e muitos anos, gente de bem; o netinho está mal e por isso vieram a pé de Forninhos pedir a tua ajuda.
Antes de saber quem eram, dei instruções à criada para não seres incomodado, pois vieste descansar, mas filho, é a Sra. Maria, nossa amiga!
- Como se chama o menino? perguntou o médico.
- Francisco António, respondeu ela.
- Ora bolas mãe, amigos e ele ainda por cima tem o meu nome! Mande entrar para a sala que já vou!
Contam-me que levei uma injecção, pelos vistos milagrosa.
A essa mãe e filho de Dornelas, sentido e profundo obrigado!
Que bom que achaste anjos assim na tua vida pra ajudar... Pessoas que fica impossível não agradecer ou esquecer,não? abraços,chica
ResponderEliminarSiempre hay personas en este Mundo en el que nuestro agradecimiento será Eterno e Infinito.
ResponderEliminarAbraços.
Esse teu agradecimento lembra o quão é importante valorizar todos os que se dedicam à saúde das populações principalmente as mais carenciadas.
ResponderEliminarSe não estou enganada, o Dr. Francisco António depois de formado foi médico no Hospital da Estefânia, em Lisboa, e como sucede ao longo dos tempos "os lisboetas" gostam de passar o Natal na "santa terrinha". Ainda bem. Com certeza terá ajudado muitas outras crianças das nossas aldeias.
Note-se, porém uma coisa: tratando-se de doença, muitas vezes recorria-se antes a rezas e mézinhas, que aos médicos e remédios da farmácia. A tua avó materna ao recorrer a um médico fez, talvez o que poucas pessoas, ao tempo, terão feito. Devia ser uma mulher calma...ponderada e...valente.
A minha avó era além do que tu dizes, uma pessoa crente e destemida a quem as pessoas recorriam em momentos de afliçao para rezar por elas e afastar o infortúnio.
EliminarPena ter partido quando eu tinha apenas sete anitos.
Amigo XicoAlmeida..... perdoe-me a intimidade em chamá-lo "amigo".
ResponderEliminarEstive no blog da Paula e fiz referência à tua augusta amizade.
Um prazer relê-lo!
Ainda mais nessa linda história dos tempos onde a amizade e a gratidão eram irmãs gêmeas e siamesas.
Linda história..... que tem 2 personagens com nomes de Santo e Papa. Meu pai também era Francisco...!!
Um grande abraço e identifique-se para mim na foto das crianças da catequese lá do blog da Paula...o primeiro à esquerda da fila da frente???
Um abraço do amigo d´além-mar!
Marco....
Uma chatice de amigo ranzinza e professor exigente:
ResponderEliminarNão seria Resurreição ????
Fica-te com Deus, Nossa Senhora de Fátima e amanhã, dia da Independência do Brasil, proclamada por um Português!!!!
Amigo Marco, para mim um prazer e honra assim o poder chamar. Confesso que apanhados de surpresa pela sua ausência, até ficamos preocupados. Obrigado por aqui vir neste início de um trabalho diferente, mas real e genuíno, no qual pretendo mesmo correndo alguns riscos, contar relatos da minha vivência, desabafar e partilhar por pensar que o frenesim destes anos podem num ou outro ponto chamar a atenção e reflexão.
EliminarAgradeço o reparo feito no título do post, imperdoável, mas aconteceu.
Talvez os nervos do início dos testemunhos me tenham tirado o discernimento.
Um abraço grande e que bom saber que está bem.
Querido amigo d´além mar....
EliminarA alma portuguesa é assim.... intensa, cheia de histórias, de superação, de lutas. A Aline, aqui embaixo, colocou bem a alma portuguesa.... andar, lutar, enfrentar tempos e tempestades pelos seus entes queridos. É o que sinto vindo aqui no teu blog.
Essa história de lutar pelos seus é bem portuguesa, bem típica daquelas mulheres que amam intensamente os seus.
Querido amigo d´além mar....
EliminarA alma portuguesa é assim.... intensa, cheia de histórias, de superação, de lutas. A Aline, aqui embaixo, colocou bem a alma portuguesa.... andar, lutar, enfrentar tempos e tempestades pelos seus entes queridos. É o que sinto vindo aqui no teu blog.
Essa história de lutar pelos seus é bem portuguesa, bem típica daquelas mulheres que amam intensamente os seus.
Boa noite Xico, mais uma vez emocionante o seu relato deste episódio em que o Sr. Doutor lhe salvou a vida! E o que as mães e avós desses tempos calcorreavam por montes e vales sem olhar a intempéries para que o médico valesse aos seus pequeninos! E graças a Deus que o médico estava lá para a sua abençoada "Ressurreição"! Como próximo da minha aldeia, do outro lado do rio, também existia um doutor que me salvou a vida logo ao nascer! Vidas de então! Só quem passou e viu como se verificavam estas situações pode acreditar, porque apesar de tudo isto por aqui agora é um paraíso (ou ainda vai sendo)! Abraço e bom fim de semana. Ailime
ResponderEliminarOlá Ailime.
EliminarPelos vistos temos algum em comum: mal nascidos, já não nos deixavam morrer!
Claro que outros tempos, mas mesmo assim não tão distantes, os quais sentimos e quase apalpamos, por estarem vivos e reais nas nossas memórias, como se os nossos avós estivessem aqui sentados a conversar connosco.
E a sorte, melhor, sortilégio de alguns poderem contar com uma raridade, um médico nalguma aldeia próxima que permitisse a ele recorrer.
Privilégio a que se deve agradecer e a Quem os colocou em nossos caminhos..
Abraço, Ailime.
Xico, gostei da sua narração e, puxa vida, tantas experiências e a sua cura... Lindo o amor da sua mãe/ avó e imagino a dedicação/esforço delas para que recebesse os cuidados médicos que precisava com urgência!
ResponderEliminarMuito suspense, hein, mas Deus tem sempre propósitos abençoadores em cada lance da nossa vida!
Abraços... O seu blog é abençoador, traz vida e lições para os que leem!
Sabe amiga Anete.
ResponderEliminarNão escolhemos antes e ao nascer, nossas vidas.
Algo me diz que temos um destino mais ou menos programado, mas o qual devemos no mínimo tentar domar e moldar.
Digo sem rebuço: fui amparado por Algo superior e isso tenho sentido ao longo da vida.
Pelo que irei contando, irá perceber que o meu Anjo da Guarda, é muito especial.
Digamos que por vezes também lhe agrado...
Beijos.
É bom retornar por aqui e continuar a conversa... Sim, Deus coloca anjos para nos guardar, proteger e lutar as nossas guerras... Você é um vencedor que, passo a passo, tem avançado e crescido interiormente... Contar a nossa história é viver passos novos de vida e liberdade...
ResponderEliminarUm Bom Final de Semana... MUITA PAZ!
Xico, junto aos teus os meus agradecimentos ao senhor doutor.
ResponderEliminarQue bem escreves!
Beijo
Bom dia Xico , era na verdade um privilégio haver médicos por perto e que, como no meu caso, com o cordão umbilical enrolado no pescoço sem a sua precisa intervenção não teria sobrevivido! Um enorme agradecimemto a esses doutores que eram e continuam a ser imprescindíveis para o bem comum. Bom domingo. Abraço Ailime
ResponderEliminarMédicos assim não existem mais!Um belo relato e boas lembranças!bjs e boa semana,
ResponderEliminarÉ tudo tão ternurento na simplicidade com que descreve as nossas gentes, as nossas maleitas, as nossas aldeias!
ResponderEliminarSou uma fã incondicional desta forma tão genuína e sincera de ser querido amigo
Tinha saudades mas o tempo voltou para contarmos as nossas histórias e trocarmos as simplicidades da vida
muitos Beijinhos Xico
Obrigada amiga Manuela.
EliminarJá o saudoso Zeca Afonso dizia que o tempo comanda a vida.
E será esse tempo que pretendo povoar com as minhas memórias.
Obrigao mais uma vez.
Beijo.
Pelo que já ouvia aos mais velhos, os médicos desse tempo eram os Robin dos Bosques, cobravam aos ricos e nada aos pobres.
ResponderEliminarE, quanto às práticas, benzas, utilizadas pelas nossas avós, acho que não vem mal ao mundo o povo deixar de acreditar no poder dessas rezas. É preciso acreditar: em Deus, nos santos, nos médicos, nos políticos, nos vedores, na ciência, etc...
Muitas vezes para os desenganados e sofredores, a cura tanto pode estar num médico, como na Senhora de Fátima, na Santa Padroeira ou no bruxo da "esquina".
Beijinhos**
Comungo em absoluto tudo o que disseste, não fossemos ambos nados nessa linda terra, a nossa, e se pouco recordamos, felizmente ainda há quem nos avive a memória e nos transmita recordações pessoais, mais longínquas.
EliminarBeijo.