12 de Agosto de 1956.
Ainda vinha o meu saudoso pai na agrura do calor, do trabalho dos campos, empoeirado e cansado e a pensar que ainda teria de acomodar o ganau, vacas, porcos, galinhas, coelhos, sei la...
A mulher, minha mae, estava comigo na barriga e nao podia ajudar.
Percebia, claro o momento, mas o caracter beirao, talhado em fragas, aparentemente emperdernido, mas de manteiga, nada deixava transparecer. Sofria no silencio, esperando que ao eu nascer, nao fosse atacado pela febre, a que chamavam coculuche.
Penso ser esse o termo, mais silaba menos silaba.
Isto em pleno Agosto, quente, tao ou mais quente que o calor da lareira, onde fumegava a caldeira de cobre, com panos e paninhos que a parteira, minha avo , Maria Lameira, na sua altivez, semeljhante a sua estatura, ordenava.
Perto do meio dia, apareceu esta coisa, eu.
Feio todos os dias, cada velhota rezava pelos cantos, no dizer, Nosso Senhor o conserve!
Contam.
Fui arrebitando caminho ate ser dado como morto. Era a maldita febre.
A minha familia era muito dada aos padres, talvez por algumas posses que tinham e contribuiam em prol da terra, deles e da igreja.
Foi marcado o meu funeral de anjinho, caixao branco, etc... para o dia seguinte.
Mal pareceria ir a sepultar este fulano, filho e neto de quem era, sem ser baptizado.
Pela calada da noite, falando com o Sr. padre, embrulhado, me levaram na igreja para o baptismo.
No dia seguinte seria o funeral, mas com irmandade e tudo.
Faltava o nome ainda nao escolhido.
Pergunta aqui, pergunta ali e nada!
O Sr. padre Valdemiro, sugeriu, coitadinho, como logo vai para debaixo da terra, porque nao dar o nome dos dois avos, Francisco e Antonio.Homenagem.
Assim fui baptizado, Francisco Antonio Fonseca de Almeida.
E este malandro, ja na altura teve o descaramento de enganar tudo e todos e hoje com amor por aqui andar...
rsssssssssss... Que bom que enganaste a todos e hoje estás por aqui!
ResponderEliminarLinda história de teu nascimento, bem tumultuado para tua família. Bom que "vingaste" como se diz aqui... abraços,chica
Ó Xico, absolutamente extraordinária a sua chegada a este Mundo! Não tinha que partir, não. Ora essa, mal acabado de chegar e logo partir....Isso não. Deus tinha outros projetos para si, um caminho que graças a Ele ainda está a percorrer e por muitos e bons! Fiquei emocionadíssima, com os meus olhos marejados...Estas coisas das terras e das origens tocam-me tanto! Um dia ainda vou escrever ou talvez não. Abraço. Ailime
ResponderEliminarAmiga Ailime, claro que de nada me lembro, mas ficou a história por todos conhecida e quando a minha mãe ainda a conta para atestar a sua veracidade, as pessoas se questionam sobre quantos bebés na minha situação terão sido enterradas por morte aparente.
EliminarNa altura os apoios resumiam-se a familiares e amigos e o senhor doutor tão distante, não era para todos, melhor, para quase ninguém.
Hospitais, médicos, transportes, não existiam no vocabulário quase prenchido com a palavra trabalho.
Abraço amigo.
Xico, história boa pra se contar... Puxa, desde o ventre lutaste com fibra e perseverança! Deus tem Seus planos e propósitos e agora podes com alegria e autoridade falar dos dias passados...
ResponderEliminarDeus é fidelíssimo nas Suas permissões...
O meu abraço, amigo...
Anete, acredito em desígnios Superiores.
EliminarPor vezes penso que se me não queisessem baptizar, possívelmente aqui não andaria.
Abraço.
Un gran Relato sobre las peripecias del nacimiento...Eso se le llama inciar la Aventura de la Vida desde Criança.
ResponderEliminarAbraços e beijos.
Não será normal começar assim a vida.
EliminarCom tamanha turbulência...
Abraço, Pedro.
Engraçada e, ao mesmo tempo, comovente a história do teu nascimento e baptismo que já antes de a escreveres conhecia e ouvia várias vezes dizer "Quis o Soberano Senhor que vivesse".
ResponderEliminarApesar das condições de vida duríssimas que se viviam na época, nasceste e cresceste num tempo tido como "tempo de ouro". Depois do teu nascimento é que se viu pela nossa terra algum progresso, luz eléctrica, telefone, rádio, televisão (na casa do padre), carreira, estradas (só não eram de alcatrão). Já havia chafarizes de água corrente, potável e sempre limpa; a possibilidade de frequentares um Seminário, embora não tivesses vocação sacerdotal, etc...
O pior foi mesmo a ditadura e aquele período a partir de 1961 até 1974 - A guerra colonial que a muitos marcou para toda a vida.
Abraço.
Olá Paula.
ResponderEliminarClaro que conheces esta história, até porque penso que foi a tua avó Maria Coelha que me curou o umbigo, juntamente com a minha avó Maria da Lameira.
"...Depois do teu nascimento é que se viu pela nossa terra algum progresso...", feliz coincidência parecendo que tal Messias, vim trazer a modernidade, claro que estou a brincar, mas tive a felicidade de ter podido usufruir dessas benesses.
Da ditadura ainda levei alguns "reparos" fruto do meu modo de ser, incomodado,crítico e contestatário, mas tal ainda hoje acontece por parte de pessoas da nossa terra.
Abraço grande.
Xico, boa! Fintaste-os!
ResponderEliminarBeijo