terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vamos aos musgos!

Mal a malvada da mestre escola gritava em histeria "meninos, nao esquecam os deveres para amanha", como se nao fossemos sabidos  das nossas obrigacoes e num esgar de ironia, alguns com gestos menos proprios, ala que se faz tarde!
Logo, logo estava o Natal e o presepio nao esperava.
Primeiro os musgos...


Maneira simples de regressar ao espirito do "Nascendo".
Talvez por cheirar a Natal, sim que na altura era apenas a quadra e o que tal envolvia, sendo que nao era pouco. A ansiedade de uma camisola nova ou umas meias, quando nao umas botas compradas a "olho" na Feira Nova. O ano tinha sido de remendos!
Desse pouco (muito em magia), vinha a feitura do presepio, parco em adornos, ate porque as figuras biblicas da burrinha e da vaquinha, moravam vivas na loja por debaixo da casa e contribuiam com o seu cheiro natural e quentura.
Livres da escola, era ver a nossa correria para as matas, pois as nossas maes complacentes, aguardavam que os caldeiros e cestas viessem com os melhores musgos, mais verdes sem se partirem, o pinheirinho do bravo que eram uma praga de abundancia (lindos na altura), pinhas meias abertas, sem bicho e pedrinhas de seixo, reluzentes que feriam a vista. Ah! e a caruma...
Tal como na foto que "roubei", era nestes calhaus de granito que se apanhavam os melhores, virados ao sol para a serra de S. Pedro, mais bonitos e que aguentavam mais tempo em casa no presepio feito junta a uma janela ou sacada, quem tal tivesse.
Um regalo montar o presepio modesto, o pinheirinho nevado de bocaditos de algodao, figuras feitas manualmente e outras a imitar, ate um simples berlinde dava magia na falta das luzinhas electricas pois rara era a casa que tinha electricidade, quanto mais...
A mae ajudava. No dia 8 de Dezembro ja tinha metido num pucara as sementes de trigo a germinar, as "sementinhas do Menino" que iriam ladear as pedras e terra colhida em direccao a manjedoura.
E enquanto nao chegavao o Dia, uma carta de Africa, America ou Brasil, dos entes queridos ausentes, ia enfeitando a pequena arvore, tornando mais doce a festividade.
Era tao lindo e puro...

7 comentários:

  1. Que lindo ,Xico! Aquela simplicidade que sentia-se bem mais nos tempos de Natal. Hoje, tudo diferente!!! abraços,chica

    ResponderEliminar
  2. Ah eu também tive uma mestre escola "malvada"!...:-) Gostava muito da professora no Alentejo, depois aqui em Lagos na 4ª classe apanhei uma horrorosa!
    Tempos em que o Natal tinha outra magia, e o musgo era fundamental para atapetar o chão dos presépios, e rara era casa onde não existia um. Por acaso na minha casa nunca houve presépio, mas admirava-os na casa das amigas.
    Gostei de ler a descrição do presépio, e da particularidade da burra e da vaca na loja da casa, e das sementes de trigo a germinar, algo de muito típico também aqui no sul, e que nunca mais se viu!
    Hoje o Natal é digamos, mais artificial, pelo menos aqui nesta zona do Algarve, e compra-se tudo nas grandes superfícies. Talvez na parte da serra seja um pouco diferente...
    Belas recordações, Xico!
    xx

    ResponderEliminar
  3. Boa noite Xico, sorri,e enterneci-me e comovi-me!
    Tempos de cores, de sabores e aromas tão diferentes dos do presente! Tão puros como disse!
    Que saudades do tempo em que o musgo era tão vede e o Natal cheirava a filhós feitas à lareira pela avó ou pela mãe!
    Saudades de respirar o Natal daqueles tempos em que saíamos já prontas para a missa com vestidos e casacos novos, sem antes espreitar os presépios das pequenas montras da aldeia!
    Eram outros tempos. Foram outros tempos.
    E agora continuam a chegar cartas e e-mails de outros continentes de familiares muito próximos e isso dói e de que maneira:((!
    Beijinhos,
    Ailime

    ResponderEliminar
  4. Xico, o meu comentário acima tem algumas incorrecções ortográficas e de pontuação que só agora vi. Desculpe. Bjs Ailime

    ResponderEliminar
  5. O presépio é a decoração de natal que mais faz parte da minha infância. Naqueles dias o espírito de natal começava mesmo nos lugares mais simples, nas matas, quando íamos apanhar o musgo. Acho que nesse tempo quando se pensava em Natal, pensava-se logo em musgo para atapetar o chão e assim tornar mais acolhedor as personagens. O musgo do presépio tinha de ser o mais macio, fofo e verde e havia sempre quem sabia onde havia o melhor.
    Este teu texto fez-me lembrar a apanha do musgo, em que eu também o ajudava a apanhar para o presépio da nossa sscola e da nossa igreja. Outros tempos, outras eras, outra alegria e diria mais, outro espírito.
    Depois todos ficavam nos seus lugares, Maria, José e o Menino, com o burrinho e a vaquinha a transmitir calor ao Menino, o anjo Grabiel a protegê-lo, o pastor e ovelhas à sua volta e também os Reis Magos a caminho.
    Dos canteirinhos de trigo, lembro-me vê-los só no presépio da igreja. Já lá vão uns bons anitos...
    Do pinheiro de Natal, também me lembro ter como único enfeite as farripas de algodão!
    Gostei muito deste post. Parabéns. Beijo.

    ResponderEliminar
  6. As minhas sinceras desculpas.
    Prometi uma coisa pessoal de vivencias e reflexao, mas tambem disse que o blog dos forninhenses era prioritario.
    Imaginei (e imagino no futuro), algo didactico, mas para tal tem de haver sustentacao emocional.
    Tivemos (eu e a Paula) que reorganizar algo de muito importante e dai partir para a actualidade. Sabiamos os riscos em abrir como la escrevi, a Caixa de Pandora.
    Terrivel.
    Jovem, escrevia um poemazito, cabelo comprido e era por tal perseguido.
    Parece que voltei a esses tempos e como tal, lutar, lutar!
    Desculpem sintetizar, pois cada qual tenho no coracao e toda a gente merece um bem haja particular (vira...), mas para imaginarem, este, nao, o blog dos forninhenses que tocou no ponto "G" dos intocaveis, corre, num dia para 700 (setecentas) visualizacoes...
    Mexeu com um mundo de personalidades e...
    Vamos ver quando a Paula e eu formos passar o Natal a Forninhos.
    Em paz, espero!
    Um beijinho para toda esta gente que tenho no coracao e espero que compreendam.
    Francisco de Almeida

    ResponderEliminar
  7. Bom texto, Xico, que nos remete a tempos muito bons... Tudo mais simples e sublime...
    Bonita imagem!
    Bom domingo... Muita paz! Abraços

    ResponderEliminar