domingo, 26 de outubro de 2014

No sino da minha aldeia

Daqui se diz quem casou
Daqui se diz quem morreu
Daqui se diz donde sou
Daqui se diz quem nasceu



Ele, o sino imponente, via a aldeia por entre colunas de granito.
Tinha a obrigacao de comunicar dor e felicidade.
O sino da minha aldeia.
Volta e meia vai tocando algumas coisas antigas, o sino da minha aldeia.
Por vezes olhamos para ele, mudo e calado.
 O que tem...
Talvez saudade do tempo em que acarretava gentes para a missa, aldeia inteira para apagar os fogos no "Ai Deus nos acuda...". 
Tocava no baptizado, os padrinhos bem vestidos, criancas imaculadas, botavam os pergaminhos de gentes simples e crentes, sempre fora com as nossas gentes. Dizia o sino da aldeia.
Repenicavam em dias festivos, Santa Marinha, Senhora dos Verdes. Nunca gostei dos Finados.
Os mortos nao mereciam tantas badaladas cruas...
E a gente para arreliar, menos homens que garotos, para ali iamos tocar, com o povo em alvoroco.
No sino da minha aldeia.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Parabens, filhota.

Como sabe bem ver este teu ar feliz...
Parece de olhos fechados, estares na clinica Sao Gabriel, na Alameda a vir ao mundo.


Vendo-a Sorrir. (A minha filha) , trinta e dois anos passados...

Filha, quando sorris, iluminas a casa 
          Dum celeste esplendor. 
A alegria é na infância o que na ave é asa 
          E perfume na flor. 

Ó doirada alegria, ó virgindade santa 
          Do sorriso infantil! 
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta 
          Todo o poema de Abril. 

Ao ver esse sorriso, ó filha, se concentro 
          Em ti o meu olhar, 
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro 
          Com pombas a voar. 

Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro, 
          És o Sol que se eleva. 
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro 
          O meu manto de treva! 

Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

E agora desce o frio...

Andamos arrenegados, um com o outro.


Faz um ano esta foto!
O Tio  Porfirio Forra que ja mostramos no blog dos forninhenses.
 Primo direito da minha mae e o primeiro a aparecer em tudo o que era esta tradicao de amigos e familia, tal como esta em frente a casa da minha "velhota".  Sempre gostou tal como eu vou fazendo de ter este encosto. Era dia de vindima e nada melhor que esperar sobre a pequena latada.
Sendo o meu falecido pai vivo, entraria na cozinha, mas certo que "estamos bem aqui fora".
"Vai ver se o lagar esta bem tapado"  ou a tua mae ja tratou disso...".
O principio do fim...
Dizia ele "rapaz, olha que em menos de quinze dias temos de ter agasalho...".
E falava de onde se podiam encontrar tortulhos, bons marmelos de lameiros abandonados e mais tarde matas de miscaros.
Tal como "Se vais armar aos tralhoes, tem cuidado com os nabos semeados, pois chegas a casa e tens sermao e e missa armada..."
Este Senhor tem uma rua que bem o homenageia, a Rua do Poeta.
Mas sabe bem que ando arrenegado...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Para onde vais minha aldeia...



O tempo foi levando o teu encanto, esquecido por quem tinha de tal preservar.
Todos somos culpados,  nao batalhamos pelo que temos em memoria, dos nossos "mais velhos", nem deixamos pergaminhos...por conveniencia organizada a que cobardemente nos sujeitamos.

A uniao da terra, apenas se manifesta na unanimidade dos que vao ficando para tras, mais contentes que consternados, por o amigo ter ganho a corrida e primeiro partir...
Assim vai definhando um lugar bonito, dividido por "porcarias" vaidosas de gentes que sabem e nao querem ou querem e nao sabem, sem pararem um minuto na vida e...




...aqui, o tempo nao voltara atras, todos serao iguais, sem bolsa de valores, fortunas, raivas...
Num local bonito que os olhos tapados nao irao apreciar, tiveram muito tempo.


Aqui jaz a historia da minha terra, de mais vencedores que vencidos, mas acredito, em paz com eles proprios.
Que seja dignificada a sua memoria e descansem em paz!