sábado, 25 de abril de 2015

Retrato no negativo

Um chilrear de alegria
A tiracolo a sacoila
Macaca e jogo da bola
No bolso a fisga escondida
Que vista estava perdida
Pela senhora regente
Muito maior que a gente
Mas acho que era tola
Pior ainda perdida
Delirios na palmatoria
Por incapaz
De nao ver 
Que ao ensinar a ler
A gente ia aprender
Que o mundo a gente o faz
E por tal a preto e branco
Com sapato ou tamanco
Nunca arranjou um rapaz


Um choque ao ver esta foto que retrata a nossa infancia. Abandonada, tal como que pedindo e por tal obrigada, que dela nos desliguemos, afinal foi ela que nos acolheu por dever, depois nos alimentou e educou, depois...depois...depois fechou.
Por ali andei, puto mais feliz do mundo, eu e outra e outros, da direita as raparigas na de baixo os rapazes (criancas, enfim).
Fui roubar esta foto ao blog dos forninhenses, por ja ter volta e meia de modo critico, nao compreender a razao de tal espaco nao ser aproveitado como espaco museologico da nossa riqueza cultural, mas acima de tudo por hoje se comemorar o 25 de Abril.
Senti recordacao da minha escola primaria e ao mesmo tempo uma alegria estranha, pois a ultima vez que nela entrei, foi para fazer parte da mesa eleitoral nas primeiras eleicoes livres em Portugal.
Tinha dezoito anos.
Ali tinha cantado por obrigacao aos oito, olhando "aqueles" afixados na parede.
Dez anos depois, escrutinava gente livre no caderno eleitoral.
Hoje e passado tanto tempo, esse parou na mentecapto mania dos autarcas locais
A prova, um caixote de lixo como que aguardando os restos de memorias dignas...

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Visita pascal

Nao esta do meu agrado, falta qualquer coisa...


Sempre assim, todos os anos, tem o culto das flores e qualquer canto encanta.
Na visita pascal, prima por ter na mesa um vaso bonito, pois o Senhor vem...nem vale a pena perguntar se que ajuda pois resmunga "uma parte assim, era o que mais faltava, so tenho oitenta e cinco, menos...estou a ficar velha, uma parte assim,repete, mas o que ela quer eu sei, ficar sozinha com as suas maneiras.
A gente finge que vai embora e ouve o monologo "debaixo da oliveira, tenho lirios mais bonitos e aqui na varanda uns cravos a florir, pena as cravinetas bem medradas, estarem fechadas, faziam vista...". Atoalha esta bem engomada, podia meter outra, que tenho, mas sempre foi esta...
A gente finge que volta e pergunta se quer enfeitar a entrada do patio com rosmaninho e alecrim.
"Tenho tudo orientado, olhai para o canto do patio, folhas de lirios e alecrim florido, desses agarrado na parede, lembras Xico, o mesmo que o teu pai ao Domingo andava com ele atras da orelha, olha cheira...".
Raio de mulher que me comove sempre que fala do meu pai e ela sempre com um sorriso e um brilho nos olhos...
" Vinde ver a mesa, acho que nao envergonha o Sr,. Padre, pois nao?".
"Nao mae, esta linda, folar, bolos, queijo, frutas, amendoas ...".
"E o vinho, vai a adega e tira da cuba encosta a parede ou entao abre um garrafao do antigo".
Nao adianta discutir e ela olha ate tocar a campainha a anunciar a visita e o padre Ivan diz "a bencao para esta casa", beijamos a cruz, mas o olhar dela tem falta de qualquer coisa, um pequeno espaco vazio.
Tambem senti.  

terça-feira, 7 de abril de 2015

A Senhora Maria

Jamais resisti ao seu sorriso e simpatia. 
A vizinha que me viu nascer e a cada ano que por mim passa a vejo igual.
Sempre com esta tranquilidade que invejo... 

E por tal nem sei a idade, nem pergunto, mas imagino pelo tempo.
O raio desse tempo que nao para, mas mal a vi ao fundo do caminho no sabado antes de domingo de Pascoa, fiquei emocionado. Falamos um bocadinho que Ela vinha carregada e nao queria ajuda, apesar de vir assim de longe. Por gosto.
" Tao carregada, Tia Maria...".
" Que tu queres, se amanha, dia de pascoa, esta tudo enfeitado, as minhas galinhas e coelhos, tambem merecem, nem que seja flores de couves....".

Bem bonitas, por sinal e um beijinho, vizinha! 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Boa Pascoa

Cada qual a seu modo de ver... 



Tem o seu encanto 
Em modo de primavera
Um sorriso inocente
De lembrar quem era
Roupa nova a estrear
E a Jesus orar
Depois do jejum
Que a gente quebrava
No fingir dos pais
Que apercebidos
Do pecado mortal
Gritavam insurgidos
Para remediar
Mas...
Vinha a festa
Como a gente brilhava
No banho tomado
Ja sem alguidares
A missa cantada
Com a procissao
Alma engalanada
Barriga apertada
No correr travesso
De quem procurava
O que o forno tinha
O cabrito assado
Um manjar divino
De boca lambida
Tal como a bisca
Arisca...
Enquanto esperavam
A visita do padre
De mesa composta
Tudo bem disposto
E ele rezava
Deus esteja convosco.