domingo, 26 de junho de 2016

TOQUE A FINADOS...

Jamais algum dia pensei que um sino tocasse a dobrados por si proprio, num chorar para dentro, logo ele, o sino da minha aldeia .
Vetusto, badalou alegrias em bodas, alarmes nos fogos e tristezas nos enterros.
Como era bonito o seu eco pelas quebradas que se desfaziam de forma sublime e aos poucos pelas serranias alcantiladas...

Um relogio do tempo para os lavradores e resineiros, uma companhia que media a curta distancia da aldeia, apesar de longa e dolorosa.
Nos domingos e dias festivos, as pessoas corriam desenfreadas nos preparos das vestimentas em conformidade com os toques das entradas para chegarem a tempo, pois tal mal pareceria...
Os tempos  agora, esqueceram os outros tempos e os padres aparecem quando podem, coitados e a horas escolhidas. Disso eles sabem, mas o sacristao que ajudava a missa e tal acolitava, saiu de cena.
Agora o sino por enquanto imponente, espera que o caruncho o leve de badalo solitario para o cemiterio.
E o meu Farrusco que uivava ao toque para a missa e trindades, anda cabisbaixo tal como eu.
Nada como dantes...

sábado, 4 de junho de 2016

VAMOS ROUBAR CEREJAS, FARRUSCO?

Que ano mais estranho!
Chuva, frio e um Deus nos acuda, clamam em penitencia por algo entranhado nas suas almas, as gentes da minha terra.
No Maio, era por tradicao os garotos irem tais como pardalitos, invadir as cerejeiras e as engolir 
mesmo com carocos, nao fosse o dono aparecer, a gente, nos, cortavamos umas pernadas, faziamos cahos em ramos, encavalitados no tronco armadilhado com silvas para nos assustar, mas depois dos bolsos enchidos, abalavamos no gozo supremo.

Sempre comigo o amigo e companheiro Farrusco, Triste por nao ouvir falar de cerejeiras carregadas e pior aquando soube que apenas tinham folhas e foi esmorecendo. Um ano sem aventura e penso eu, entrou em depressao, tal como eu para tal me via a caminhar e os da idade.
Mas, uma semana passada, o tempo veio escaldante e arrepiamos, quase um milagre, ate o cuco cantava mais vezes e alto. Algo se passou com o canito, se calhar destranbolhou.
Desapareceu nesse dia inteiro, porventura nos seus devaneios, tal pensei, pois ele gostava de meditar acerca da vida e chegou suado, mas feliz.
Gozou folgado da vida e mereceu por tal uma mangueirada para o aquietar e ouvir...


Malandro, vim a perceber depois quando me levou ferrado pelos fundilhos da calca, de modo discreto, convenhamos, para o lugar dos Carregais.
Do meu avo paterno herdei o nome de Francisco que abominava que nos tratassem por Chico, dizia que este era o diabo, mas fosse ou nao, aquela cerejeira, encostada a uma figueira de figo preto, havia escapado a esta calamidade e o Farrusco, sabio, a encontrou.
Trepei por ela acima e foi um fartote para gaudio do meu companheiro, mas eis senao quando...
Mais esperto que os dois, aparace o meu avo, danadinho para uma valente tareira que remediasse a coisa.
O fim do mundo, pensei, pior quando vejo o Farrusco escondido por detras de um pinheiro. Aqui morro, tal pensei e por tal maldita cerejeira a bical, me encomendei ao meu destino final e de olhos fechados me rendi...

"As cerejas do Chico Balas
Comem se duas a duas
As que estao na barriga sao minhas
As da cerdeira sao suas".

Fui salvo pelo escarnio, mas se apanho o cobarde do Farrusco...