segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Espelho de Natal

 Almas penadas dum Portugal nuclear, todas as personagens dele ardem nas suas páginas como nas labaredas simbólicas de qualquer nicho dos caminhos. Por isso, de mãos erguidas, imploram de quem passa o piedoso silêncio que preceda um acto de respeito e de compreensão. Respeito pela sua medida, que é humana, e compreensão pelos trâmites das suas acções, que foram terrenas. 
" Miguel Torga Coimbra, Setembro de 1952"


Por detras,uma "moderna" paragem de camioneta a que os mais velhos aquando ela passa, chamam de carreira . Sentam e conversam nesse dia sagrado acerca das suas maleitas, como que combinando o que de queixas ditas e escondendo as verdadeiras por medo das receitas.
Dia 24, fazia frio, mas um frio quente que sem o "cair" da geada, tapava o vidro da paragem incomoda em que se reflectiam rostos e chamas escaldantes de muitas almas e poucas gentes.
     

sábado, 19 de dezembro de 2015

Contos de Natal

Como se nao bastasse o Farrusco e depois o seu pai, o Miseravel e duas presumiveis manas, eis que chegam as convidadas. Abusadores da sorte de nao ficarem ao relento, pelo cheiro das guloseimas, porventura.
Abusaram de mim e ocuparam o meu comodo lugar, exigindo contos. Uma coisa assim...
Mas como resistir. Pronto, digo eu embevecido naqueles olhares gulosos e bem nutridos...




Era uma vez um homem que vivia do comercio. O homem andava de um lado para o outro a vender os seus produtos.
Naquele dia , ele nao vendeu nada e voltou para casa. No caminho de volta, ele olhou para o horizonte e viu uma estrela muito brilhante e grande. Chegou a casa e sentiu uma irresistivel vontade de seguir a estrela. Despediu-se da familia e começou a sua caminhada atras da estrela. Levava pao, agua, vinho, uns bolos e dinheiro para o que fosse preciso.
No caminho que seguiu, passou por uma cidade e la comprou um jumento para carregar as suas coisas. Estava muito cansado.
Passado um pouco, viu um homem rico a sua frente e este disse-lhe:
- Ja te vi aqui, nao es comerciante?
- Sou, respondeu o homem que seguia a estrela, mas agora nao tenho nada para vender.
- Nao tens ao menos um pao? a minha criada hoje faltou e nao temos pao em casa.
- Tenho aqui um pouco, disse o comerciante, serve?
- Serve sim, Toma la esta bolsa, disse o homem rico, atirando uma bolsa para a beira do comerciante - obrigado!
- Obrigado eu, disse o comerciante.
O homem rico la foi para casa e o comerciante abriu a bolsa e viu que estava cheia de dinheiro. Mas no deserto, o comerciante foi assaltado e so ficou com o jumento e alguma comida.
Passados alguns dias, chegou a Belem. Continuou a seguir a estrela e viu uma gruta com um menino numa manjedoura e cinco pessoas: os tres Reis Magos, Nossa Senhora e Sao Jose.
Os Reis tinham chegado havia pouco tempo e o comerciante, como nao tinha mais nada para oferecer, deu o jumento e pareceu-lhe que o Menino sorriu.
Quando os reis Magos, ofereceram oiro, mirra e incenso, ja nao lhe pareceu ver o Menino a sorrir.
E entao chegou a uma conclusao:
O dinheiro nao traz toda a felicidade.
O comerciante voltou para cada e sentiu-se muito feliz.

Ficaram comovidos, nas serranias faltam estorias e a vida era dura, diziam os seus pais que os haviam carregado ate aqui!

Gostavam de ter quem tal lhes contasse.
Perguntaram se alguem me contava coisas de Nata e respondi que sim, a minha mae e sobretudo a minha avo Maria a quem havida feito tempos idos um versito...
Conta!!!


Dormia com a minha avozinha,

Debaixo de quatro mantas,
Acordava tao quentinho,
Mas saltava p'ra cozinha,
para ver o sapatinho.

Sempre houve qualquer coisinha,
Conforme o que se podia,
Era dia de Natal.
Diferente era a alegria.

A seguir estremunhado,
Espreitava pela janela,
Tanta neve na Matela,
O lameiro do Ti Esmael,
Era farinha de moleiro,
Tal a brancura infinita,
Que cobria o meu Outeiro.

O fumo das chamines, 
Ainda o galo cantava,
Acordava a freguesia,
E Jesus rejubilava.

Um Santo Natal para todos, do fundo do coraçao.