quinta-feira, 5 de setembro de 2013

RESURREIÇÃO



A " Maligna"

A memória cognitiva de cada um, difere.
Apega-mo-nos ao que os mais velhos reportam, por vezes complacentes no bem dizer.
A isso recorro para transcrever aqui a continuação da minha história.Após "ressuscitar", a maldita febre ainda estava arreigada, raivosa e despeitada,  procurava porventura saber como eu tinha escapada das suas garras maléficas e  furibundas.
A "safada", apenas tinha feito uma pausa. pois volvidos dois dias, voltou em dobrado. Havia que parar a maligna.
A minha avó materna tinha conhecimentos mais ou menos próxima, de uma senhora influente da circunvizinha aldeia de Dornelas, distante a meia dúzia de quilómetros.
Sabia que o filho dela, dr. Francisco Varela, recém- formado em Coimbra em medicina, usufruia uns dias de descanso na terra natal.
Ao findar do dia, porque voltei a ficar arroxeado,  minha mãe e avó, meteram-se a pé, calcorreando pinhais, contornando ribeiros, para ver se o sr. doutor podia fazer algo pela criancinha.
Lá chegadas, já noite, cansadas mais pela angústia e desespero do que pelo palmilhar do caminho em que se revezavam no colo, bateram na casa senhorial.
- Quem é, perguntou a criada.
- Sou a Maria Lameira de Forninhos e queria falar com a senhora, respondeu minha avó, ao que a criada retorquiu:
- Vou saber se pode atender.
Pausa, ansiedade, no silêncio quase eterno da expectativa, apenas quebrado pela minha tosse intermitente.
Passados segundos, aqui uma eternidade, apareceu a senhora que ao ver minha avó, exclamou surpresa:
- Tu por aqui, Maria, que te traz?
- Minha senhora, trago o meu netinho que esteve para ser enterrado por causa da febre e soube que o sr. douto cá estava e vim ver com sua permissão pedir  se o podia salvar.
- Entra Maria, essa que te acompanha parece ser a tua filha, há tanto tempo que vos não via...
Com os ruídos, o sr. doutor veio indagar o que se passava.
- Olha Francisco, esta senhora é amiga da família há muitos e muitos anos, gente de bem;  o netinho está mal e por isso vieram a pé de Forninhos pedir a tua ajuda.
Antes de saber quem eram, dei instruções à criada para não seres incomodado, pois vieste descansar, mas filho, é a Sra. Maria, nossa amiga!
-  Como se chama o menino? perguntou o médico.
-  Francisco António, respondeu ela.
- Ora bolas mãe, amigos e ele ainda por cima tem o meu nome! Mande entrar para a sala que já vou!
Contam-me que levei uma injecção, pelos vistos milagrosa.

A essa mãe e filho de Dornelas, sentido e profundo obrigado!

21 comentários:

  1. Que bom que achaste anjos assim na tua vida pra ajudar... Pessoas que fica impossível não agradecer ou esquecer,não? abraços,chica

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  2. Siempre hay personas en este Mundo en el que nuestro agradecimiento será Eterno e Infinito.
    Abraços.

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  3. Esse teu agradecimento lembra o quão é importante valorizar todos os que se dedicam à saúde das populações principalmente as mais carenciadas.
    Se não estou enganada, o Dr. Francisco António depois de formado foi médico no Hospital da Estefânia, em Lisboa, e como sucede ao longo dos tempos "os lisboetas" gostam de passar o Natal na "santa terrinha". Ainda bem. Com certeza terá ajudado muitas outras crianças das nossas aldeias.
    Note-se, porém uma coisa: tratando-se de doença, muitas vezes recorria-se antes a rezas e mézinhas, que aos médicos e remédios da farmácia. A tua avó materna ao recorrer a um médico fez, talvez o que poucas pessoas, ao tempo, terão feito. Devia ser uma mulher calma...ponderada e...valente.

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    1. A minha avó era além do que tu dizes, uma pessoa crente e destemida a quem as pessoas recorriam em momentos de afliçao para rezar por elas e afastar o infortúnio.
      Pena ter partido quando eu tinha apenas sete anitos.

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  4. Amigo XicoAlmeida..... perdoe-me a intimidade em chamá-lo "amigo".
    Estive no blog da Paula e fiz referência à tua augusta amizade.
    Um prazer relê-lo!
    Ainda mais nessa linda história dos tempos onde a amizade e a gratidão eram irmãs gêmeas e siamesas.
    Linda história..... que tem 2 personagens com nomes de Santo e Papa. Meu pai também era Francisco...!!
    Um grande abraço e identifique-se para mim na foto das crianças da catequese lá do blog da Paula...o primeiro à esquerda da fila da frente???
    Um abraço do amigo d´além-mar!
    Marco....

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  5. Uma chatice de amigo ranzinza e professor exigente:
    Não seria Resurreição ????
    Fica-te com Deus, Nossa Senhora de Fátima e amanhã, dia da Independência do Brasil, proclamada por um Português!!!!

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    1. Amigo Marco, para mim um prazer e honra assim o poder chamar. Confesso que apanhados de surpresa pela sua ausência, até ficamos preocupados. Obrigado por aqui vir neste início de um trabalho diferente, mas real e genuíno, no qual pretendo mesmo correndo alguns riscos, contar relatos da minha vivência, desabafar e partilhar por pensar que o frenesim destes anos podem num ou outro ponto chamar a atenção e reflexão.
      Agradeço o reparo feito no título do post, imperdoável, mas aconteceu.
      Talvez os nervos do início dos testemunhos me tenham tirado o discernimento.
      Um abraço grande e que bom saber que está bem.

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    2. Querido amigo d´além mar....
      A alma portuguesa é assim.... intensa, cheia de histórias, de superação, de lutas. A Aline, aqui embaixo, colocou bem a alma portuguesa.... andar, lutar, enfrentar tempos e tempestades pelos seus entes queridos. É o que sinto vindo aqui no teu blog.
      Essa história de lutar pelos seus é bem portuguesa, bem típica daquelas mulheres que amam intensamente os seus.

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    3. Querido amigo d´além mar....
      A alma portuguesa é assim.... intensa, cheia de histórias, de superação, de lutas. A Aline, aqui embaixo, colocou bem a alma portuguesa.... andar, lutar, enfrentar tempos e tempestades pelos seus entes queridos. É o que sinto vindo aqui no teu blog.
      Essa história de lutar pelos seus é bem portuguesa, bem típica daquelas mulheres que amam intensamente os seus.

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  6. Boa noite Xico, mais uma vez emocionante o seu relato deste episódio em que o Sr. Doutor lhe salvou a vida! E o que as mães e avós desses tempos calcorreavam por montes e vales sem olhar a intempéries para que o médico valesse aos seus pequeninos! E graças a Deus que o médico estava lá para a sua abençoada "Ressurreição"! Como próximo da minha aldeia, do outro lado do rio, também existia um doutor que me salvou a vida logo ao nascer! Vidas de então! Só quem passou e viu como se verificavam estas situações pode acreditar, porque apesar de tudo isto por aqui agora é um paraíso (ou ainda vai sendo)! Abraço e bom fim de semana. Ailime

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    1. Olá Ailime.
      Pelos vistos temos algum em comum: mal nascidos, já não nos deixavam morrer!
      Claro que outros tempos, mas mesmo assim não tão distantes, os quais sentimos e quase apalpamos, por estarem vivos e reais nas nossas memórias, como se os nossos avós estivessem aqui sentados a conversar connosco.
      E a sorte, melhor, sortilégio de alguns poderem contar com uma raridade, um médico nalguma aldeia próxima que permitisse a ele recorrer.
      Privilégio a que se deve agradecer e a Quem os colocou em nossos caminhos..
      Abraço, Ailime.

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  7. Xico, gostei da sua narração e, puxa vida, tantas experiências e a sua cura... Lindo o amor da sua mãe/ avó e imagino a dedicação/esforço delas para que recebesse os cuidados médicos que precisava com urgência!
    Muito suspense, hein, mas Deus tem sempre propósitos abençoadores em cada lance da nossa vida!

    Abraços... O seu blog é abençoador, traz vida e lições para os que leem!

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  8. Sabe amiga Anete.
    Não escolhemos antes e ao nascer, nossas vidas.
    Algo me diz que temos um destino mais ou menos programado, mas o qual devemos no mínimo tentar domar e moldar.
    Digo sem rebuço: fui amparado por Algo superior e isso tenho sentido ao longo da vida.
    Pelo que irei contando, irá perceber que o meu Anjo da Guarda, é muito especial.
    Digamos que por vezes também lhe agrado...
    Beijos.

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  9. É bom retornar por aqui e continuar a conversa... Sim, Deus coloca anjos para nos guardar, proteger e lutar as nossas guerras... Você é um vencedor que, passo a passo, tem avançado e crescido interiormente... Contar a nossa história é viver passos novos de vida e liberdade...
    Um Bom Final de Semana... MUITA PAZ!

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  10. Xico, junto aos teus os meus agradecimentos ao senhor doutor.
    Que bem escreves!
    Beijo

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  11. Bom dia Xico , era na verdade um privilégio haver médicos por perto e que, como no meu caso, com o cordão umbilical enrolado no pescoço sem a sua precisa intervenção não teria sobrevivido! Um enorme agradecimemto a esses doutores que eram e continuam a ser imprescindíveis para o bem comum. Bom domingo. Abraço Ailime

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  12. Médicos assim não existem mais!Um belo relato e boas lembranças!bjs e boa semana,

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  13. É tudo tão ternurento na simplicidade com que descreve as nossas gentes, as nossas maleitas, as nossas aldeias!
    Sou uma fã incondicional desta forma tão genuína e sincera de ser querido amigo
    Tinha saudades mas o tempo voltou para contarmos as nossas histórias e trocarmos as simplicidades da vida
    muitos Beijinhos Xico

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    1. Obrigada amiga Manuela.
      Já o saudoso Zeca Afonso dizia que o tempo comanda a vida.
      E será esse tempo que pretendo povoar com as minhas memórias.
      Obrigao mais uma vez.
      Beijo.

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  14. Pelo que já ouvia aos mais velhos, os médicos desse tempo eram os Robin dos Bosques, cobravam aos ricos e nada aos pobres.
    E, quanto às práticas, benzas, utilizadas pelas nossas avós, acho que não vem mal ao mundo o povo deixar de acreditar no poder dessas rezas. É preciso acreditar: em Deus, nos santos, nos médicos, nos políticos, nos vedores, na ciência, etc...
    Muitas vezes para os desenganados e sofredores, a cura tanto pode estar num médico, como na Senhora de Fátima, na Santa Padroeira ou no bruxo da "esquina".

    Beijinhos**

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    1. Comungo em absoluto tudo o que disseste, não fossemos ambos nados nessa linda terra, a nossa, e se pouco recordamos, felizmente ainda há quem nos avive a memória e nos transmita recordações pessoais, mais longínquas.
      Beijo.

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