" Verde foi meu nascimento, mas de luto me vesti, para dar a luz ao mundo, mil tormentos padeci!".
Afinal qual mãe a sentir as primeiras dores do parto...![]() |
Em tempos antigos... |
E em tempos modernos, a tradição |
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Que a mão sábia, avalia e agradece |
No amanhecer da noite mal dormida, não apenas pelo corpo dorido do cansaço, mas pela falta de tempo, lá vinham os homens e mulheres "ao ganho" de mais um dia de vareja. à de fulano tal, não faltavam ano nenhum, eram bem tratados.
A minha mãe vai-me como de costume, avivando memórias gravadas da minha infância, como algumas que venho deixando no livro da minha terra: "o blog dos forninhenses". Obrigado mãe! A ela recorri sobre este tema da vareja. Acabando-se os míscaros, chega o tempo de ripar uma ou outra azeitona mais temporã para curtir na talha e que irá enfeitar os pratos na mesa durante todo o ano.
Mas o pessoal chegado para mais um "dia da azeitona", não podia ficar parado, já era Dezembro, o mês dela em Forninhos, mas podia prolongar-se a apanha até Janeiro,dependia do estado de maturação e do tempo. Com neve e neve durante dias, quem lá ia...
A minha família tinha oliveiras desde Valongo, Porto, Nogueiras, Olivais e até em Colheirinhas, aldeia pequenina sita a cerca de meia dúzia de quilómetros da minha aldeia.
Aqui vagamente recordo um dia ter acompanhado o "rancho" de gente. Quilómetros a pé, homens vestidos de samarras e mulheres de xaile tapando a cabeça e apertando os queixos. Eles com os toldos e varas às costas e elas com os canastros e cestas de verga à cabeça, mas todos gelados, o gelo e gelada resistia ao sol que começava a romper.
Na chegada a Colheirinhas, a primeira coisa era fazer a fogueira no olival, aquecer o corpo e despertar o espírito. Iam muitas raparigas que transformavam a tarefa árdua numa festa, para começar, faziam-se anunciar tocando desafiadoramente a sineta da pequena capela local. "Já chegamos!". Aliás, um dia, os da aldeia chatearam-se e tiraram a corda da sineta, mas as gaiatas com as varas da vareja virada ao contrário, massacravam a sineta enquanto os homens davam verdoadas nas pernadas das oliveiras. Havia que fazer justiça ao ganho, eles varejar e elas apanhar e encestar a azeitona e entre todos volta e meia um pouquito de aguardente. Estendidos os toldos depois da vareja feita, faltava limpar a azeitona e metê-la em sacos de serapilheira, antes de chegar o carro de bois para as acarretar.
Findo o trabalho, havia que regressar novamente a a pé até Forninhos. Tudo havia corrido bem, por isso à porta da nossa terra, no Carvalho da Cruz, armava-se o bailarico ao som do realejo.
Tinha acabado mais um dia "ao ganho, frio, suado e tão divertido.