quarta-feira, 13 de novembro de 2013

SALTAR NO TEMPO...

Aguiar da Beira. Pelourinho, torre e fonte. 

Na surdina, esta imagem trás consigo coisas muito reais, boas e más na recordação.
A contraposição de tempos, ideologias e carácteres, pior, diria, imposicões.
Quem como eu vinha ao fim de alguns anos de um moderno seminário alemão, vê-se de um momento para o outro e com todo o respeito, remetido ao único local de ensino, condigno e acessível da zona, apesar de o poder civil se submeter à obrigatoriedade da igreja. Mais do mesmo, diria!
Pensei que não me iria afectar, errado!
Este mundo era diferente pela liberdade que aqui e ali, quebrando as "imposições" de seminarista, sós e sem "polícias", a liberdade abundava e até se podia namoriscar, à vista e claro "sem pecado".
A integração foi acontecendo, sabe Deus...Nem sabia dançar, melhor, não estava à vontade...apesar de vontade não faltar, havia que ganhar coragem, conseguido com o tempo.
O que me ia salvando, eram alguns rumores de escritos meus, na clandestinidade e ainda no seminário contra a ditadura, davam algum respeito: "cuidado com o gajo!".
A minha defesa que ainda hoje honro, apesar de um ou outro dissabor, com nomes deste e daqueles, mas...

25 de Abril de 1974

Grândola vila morena...  A Revolução dos Cravos!
Valeu a pena esperar e participar, mas Deus tenha perdão, o ar apoplético do Pide do colégio quanto todos gritavam, "desanda filho da mãe, somos livres!".
Claro que desandou...
No 1º. de Maio, já estava em Lisboa  a cantar. Pena as flores irem esmorecendo...

12 comentários:

  1. Um lugar que deixou marcas em ti e lembranças ficam mesmo. E teus escritos, já mostravam que tinhas visão, sabias o que escrevias! abraços,chica

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    1. Adoro escrever, Chica e quando me reformar, quem sabe...
      Abraços.

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  2. Olá, Amigo Xico...
    Marcas do que se foi e um novo horizonte com esperanças e passos novos... É bom lembrar e carregar um gostinho de saudade das experiências vividas... Também é bom relembrar com outro olhar e outra visão dentro de nós...
    Bonito Salto No Tempo!

    Abraço

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    1. Anete amiga, uma autêntica revolução física e emocional.
      Se tal pessoalizo, foi pela vivência, apesar de sentir que igual a milhares como eu.
      Agora começa o tempo do balanço com mais calma.
      Abraço grande.

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  3. Olá Xico acredito que essa mudança o tenha marcado, pois como diz viu-se confortado com uma nova realidade que decerto não terá sido a mais receptiva, até pelas mudanças, direi bruscas! No entanto esse sabor a liberdade que entretanto chegou com a Revolução dos Cravos ter-lhe-á aberto novos caminhos, novos horizontes!
    Estive no Carmo nesse dia e nos que seguiram pois já estava integrada no mundo do trabalho e pode crer que foi uma novidade imensa e bela que conheci.
    Agora entristeço-me também com os cravos já quase sem pétalas. Bj Ailime

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    1. Ailime.
      As convicções sendo tidas como tal, não morrem. Claro que a vida as vai polindo para o bem ou para o mal.
      Estas mudanças sem rede para a vida mundana, a de todos, tem o perigo a espreitar em cada esquina. Por vezes falta a sorte, graças a Deus não me queixo, mas podia ter acontecido sendo que nem sempre fui alinhado...
      Mas o ter participado, melhor, vivido a nossa linda e exemplar revolução, foi um pouco a compreensão de já usar o cabelo comprido que se notava nas "manifs". Não que fosse importante!
      Lá irei no próximo post.
      Beijinho.

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  4. Olá Xico,
    Uns anos depois (já depois da Revolução dos Cravos) também eu passei pelo colégio de Agb, o chamado colégio do Sr. Pe. Fonseca e encontrei por lá "o Pide", mas gostei e tenho saudades desses anos e dos professores.
    Aguiar da Beira foi o salto, sim, para a liberdade, muitas vezes, sem a autorização dos professores e muito menos dos pais, íamos à matiné duma discoteca e na época de Verão ao rio, o que tonava estas aventuras bastante emotivas.
    Recordar é viver e é muito bom recordar o sítio que nos viu dar os primeiros saltos! Obrigada e Parabéns pelo 'post'.
    Ah! Até o vestuário era diferente, já não era preciso vestir a bata branca da escola primária.
    Depois há espaços que nunca se esquecem o buffet ou a Panifex.
    Beijinhos e @té à próxima.

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    1. Olá Paula.
      Ali andei apenas um ano e acho que foram mais as vezes que faltei do que fui às aulas. Vindo de um seminário, a princípio um bicho raro, mais para as meninas, depressa me integrei e fui separando o trigo do jóio, nem sempre.
      Abriram a jaula ao lobo e este andava deslumbrado.
      Recordo que um dia ao chegar a casa, lá estava o padre Fonseca a falar com os meus pais; davam-se bem.
      Do páteo escutei,: "Sr. Alfredo, está lá há 3 meses e tem de sair. Entre vidros partidos, carteiras da sala de aulas que desaparecem e são queimadas na mata para assar frangos que os meus sobrinhos roubam a mim, a mando dele, vai uma despesona.".
      Achei engraçado, nem tinha noção, era a liberdade e se os padres/professores nos queriam seguir, coitados, duas batatas enfiadas no cano de escape do carro e estava feito.
      Não tinhamos discotecas mas abundavam as sombras dos castanheiros e pinheiros...para jogar às cartas.
      Beijocas.

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  5. Belos momentos de tua vida tão bem relatados em seu post! Linda a imagem tb! bjs e bom final de semana,

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    1. Anne, fomos e vamos ao longo da vida, saltitando.
      Momentos que mesmo menos bons, sabem tão bem...
      Abraço.

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  6. Xico,
    Como viveste uma época em que havia falta de liberdade, é normal que por vezes houvesse alguns exageros, afinal próprios de uma juventude ansiosa de liberdade e desejosa de colocar em acção as suas potencialidades.
    Acho que há poucos relatos dos jovens do interior que viveram e sentiram o 25 de Abril, daí que gostava muito que um dia (sugeria o 25 de Abril próximo) escrevesses um texto sobre como foi viver o 25 de Abril numa aldeia como Forninhos.

    Bom Domingo.

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    1. Pelo respeito e carinho que te devo e também por uma questão de altruísmo, irei fazer-te a vontade.
      Essa data, já deixei aqui transparecer a sua publicação, mas sabes Paula, ainda hoje na nossa terra há quem nisso veja "maldade".
      Que fazer, parece uma praga, a erva daninha vai morrendo mas deixa as raízes. Quem sabe quando acabarem as benesses pagas por todos, fiquem mirradas ao sol.
      Já me alonguei...
      Beijos.

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