sábado, 10 de maio de 2014

Maio, Cerejas ao borralho

Ainda uma dúzia de dias atrás, espreitavam  maneirinhas, quase envergonhadas e melindradas na janela do sol que rompia por entre a folhagem...


Estava na minha aldeia, sem pressa de regresso, com pena de perder uma das coisas mais belas, as cerejas pintando na sua puberdade aquele rubor de menina apaixonada que ela sabe que nos prende.
Cada cerejeira, aquelas das mais antigas, estão marcadas, ate pelo nome, cerdeira.
Fulano tem a cerdeira cheia de silvas e os malandros não podem subir o tronco. Caramba, desafiar putos que iam provar a caroça, as cerejas mais temporãs...raio de donos, "Deus lhes desse uma caganeira", não foramos nós, vinham os melros e outros iguais, rapinar.
Como andavam altos, apenas eram amaldiçoados, mas la íamos lutando pela vida, melhor, subindo a cerdeira ate sermos apanhados.
Contam "romances da aldeia" que certa pessoa, encavalitada e regalada numa destas, tripa forra até estourar, ouviu o ribombar de uma voz de trovão, o dono, "quem és meu malandro que te fisguei, sabes quem sou...".
O puto, ainda vão afirmando ter sido eu. Mentira, se bem que era capaz de tal, de responder ao dono aquilo que ele ouviu: "as cerejas do Chico Balas, comem se duas a duas, as que estão na barriga são minhas, as que estão na cerdeira são tuas".
Bom, bom, era mesmo esperar pela noitinha, fria a pedir fogueira e borralho, e a "revoada de pardalitos" vendo o dono cansado depois de ter perdido meio dia de "espera", voltar aos seus afazeres. Não mediamos tempo nem consequências, éramos inocentes...
Menos maus que os verdadeiros pardais a quem os donos amaldiçoavam como a causa dos seus danos...
Era tão bom ir roubar cerejas!
Hoje comprei para provar, portuguesas, num mini do Bangladesh...

15 comentários:

  1. Rssss...Lindas recordações e garanto que aquelas eram muiiiiiiiito mais gostosas do que as que compraste,né?rs abração,tudo de bom,chica

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    1. Chica, sempre ouvi dizer, come a primeira cereja, cheira um bago de uva e não morres nesse ano.
      Por enquanto tem dado certo:
      Aquele abraço.

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  2. Olá Xico
    Na minha terra não há cerejas, mas quando chegava a época delas, lá em casa nunca faltavam. Imagino que a preço de ouro... mas foi assim que, de bem pequenina, fiquei a gostar muito desta fruta.
    Agora mal aparecem não deixo de as comprar. Começam por ser caras e nem por isso saborosas. Ainda não comi nenhuma! Mas mal apareçam por aqui, com bom look... vão fazer parte da lista diária de compras!
    E vamos à festa da cereja, ou no Fundão, ou em Resende... mas vamos!
    Bjs

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    1. A minha fruta preferida.
      Porquê?
      Nem sei explicar tantas são as coisas dela advindas...a cor e sabor, delicadeza , são lindas e boas, pena que pouco durem.
      Aproveitemos e eu aproveito para lhe agradecer num abraço.
      Sinto-a mais calma e serena; isso é bom. Força!
      Um beijinho.

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  3. Oi Xico,
    adorei a sua narração, são coisas feitas na mais pura inocência dessa idade onde tudo se pode fazer, rsrs, e tem um sabor de aventura, que não deixa de ser...
    Só conheço cerejas em conserva, por aqui não se cultiva, mas adoro!
    Beijos!

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    1. Não sou puro, dizem que um diabo à solta para não serem mais rudes...enfim.
      Mas cerejas de conserva?!!!
      Pecados meus e sem sacrilégio, quase como "Cristo" continuar embrulhado no Santo Sudário.
      Nem imaginava que havia quem não tivesse cerejas à mão de semear...
      Vou guardar um caroço, semear para si.
      Beijinho.

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  4. Ai as cerejas! Que o dono não apareça!
    Também me lembro bem esperar ansiosamente pelo aparecimento das primeiras cerejas que se colhiam e comiam ao pé da cerejeira ou será cerdeira? Saboreávamos as cerejas e depois de regresso a casa escolhia-se “os brincos”. Recordas-te? E ainda cortávamos um ramo bem carregadinho para ser exibido, ao qual retirávamos as folhas.
    Também lembro ouvir falar que as cerejas do Chico Balas comem-se duas a duas :-) mas também só há pouco soube que foi o teu avô Francisco que respondeu assim. Mas tu, Chico, da fama não te livras ;)
    Beijo.

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    1. "Brincos" nunca fez o meu género!
      Pegar numas varas de pinheiro ainda resinoso e arrebentar com as silvas do tronco das cerdeiras, dava gozo, parecia que estávamos a bater no dono. Verdade!
      Era a raiva de pagarmos pelo pouco que comíamos e do muito que a passarada levava.
      Mas pegando num ramo da cerdeira, folhas cortadas, apenas ficavam dois galhos, tipo prato da balança.
      As meninas com os brinquinhos dos pares de cereja os "machos", com os mesmos pares, iam acumulando, acumulando com crirério até fazerem um cacho de cerejas enorme.
      Havia desafios...
      Beijo.

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  5. Ah as traquinices dos "pardais" à solta!...Imagino o prazer que não seria provar o fruto tirado directamente da cerejeira, duas a duas...
    O seu texto fez-me lembrar a personagem Gineto dos "Esteiros" e os seus assaltos aos pomares.
    Não sabia que cerejeira também se chamava cerdeira, e realmente armadilhar-lhes o tronco com silvas é uma grande maldade...:-)
    Também é bom saber que num mini do Bangladesh se podem encontrar cerejas. Eu este ano ainda não as provei.
    xx

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    1. Quem diria que um dia se traria a Forninhos o Bangladesh.
      Ou o pequeno espaço mais próximo para matar saudades de Forninhos...
      Raio do mundo!!!
      Pouco valiam e hoje voltei: "senhor, senhor, boas, boas...".
      Eram das mesmas e claro que me excedi..."boa m...".
      Depois comedi-me, afinal cerejas vendidas em Portugal por gente integrada na união Europeia, vinda de países asiáticos e ainda por cima amigos que me tratam bem (pelo euro).
      Estas que repousam nas caixas, não dão para pardais debicarem, mas em casa, olhando para elas, coradinhas e provocantes, levam-nos na imaginação...
      Ficam mais saborosas.
      Abraço, Laura.

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  6. Linda história das Cerejas! Muito real e alegre!!
    O Xico e suas peripécias, não é? "Era tão bom ir roubar cerejas!"
    Um abraço e Uma Ótima Semana...

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    1. Um pouco ao estilo do Robin dos Bosques, roubar aos ricos e mais doces eram as cerejas quanto maior o risco...
      Gostos que se herdam da nossa aldeia, sem valor monetario mas que batiam forte no orgulho dos donos por se sentirem motivo de chacota ao ouvirem o gozo deste bando de pardalitos gulosos.
      E la ia ele e outros que tais, esconjurando e arrenegando "malvados, um dia ainda vos apanho...".
      Querias!
      Por vezes na safadice, durante a noite desciamos os suspensorios no quintal da casa e deixavamos os carocos...
      Danados para a brincadeira!
      Mas acreditem, era verdade.

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  7. Boa tarde Xico, e quem era a rapaziada desse tempo que resistia à tentação de subir às árvores de fruta!
    Então cerejas, uma delícia! Imagino a festa que era, não fora os donos aparecerem muito embora depois de já deveras saciados;))!
    A foto está lindíssima e muito bem integrada no texto com que a ilustra!
    Beijinhos, Ailime

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  8. E quem resiste Xico a esta tentação?
    Na aldeia diz-se que roubar fruta para comer não é pecado...
    E os morangos silvestre?? Ui! Apanha-los e trazer espetados numa canina de centeio para não se desmacharem!
    Maravilha!
    Abraço!

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  9. Hoje fez-me bem passar por aqui, ler e comentar
    Normalmente uso o G+1, por falta de tempo, mas é sempre um privilégio visitar este blog.
    Beijos e abraços.D

    http://acontarvindodoceu.blogspot.pt

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