sábado, 4 de junho de 2016

VAMOS ROUBAR CEREJAS, FARRUSCO?

Que ano mais estranho!
Chuva, frio e um Deus nos acuda, clamam em penitencia por algo entranhado nas suas almas, as gentes da minha terra.
No Maio, era por tradicao os garotos irem tais como pardalitos, invadir as cerejeiras e as engolir 
mesmo com carocos, nao fosse o dono aparecer, a gente, nos, cortavamos umas pernadas, faziamos cahos em ramos, encavalitados no tronco armadilhado com silvas para nos assustar, mas depois dos bolsos enchidos, abalavamos no gozo supremo.

Sempre comigo o amigo e companheiro Farrusco, Triste por nao ouvir falar de cerejeiras carregadas e pior aquando soube que apenas tinham folhas e foi esmorecendo. Um ano sem aventura e penso eu, entrou em depressao, tal como eu para tal me via a caminhar e os da idade.
Mas, uma semana passada, o tempo veio escaldante e arrepiamos, quase um milagre, ate o cuco cantava mais vezes e alto. Algo se passou com o canito, se calhar destranbolhou.
Desapareceu nesse dia inteiro, porventura nos seus devaneios, tal pensei, pois ele gostava de meditar acerca da vida e chegou suado, mas feliz.
Gozou folgado da vida e mereceu por tal uma mangueirada para o aquietar e ouvir...


Malandro, vim a perceber depois quando me levou ferrado pelos fundilhos da calca, de modo discreto, convenhamos, para o lugar dos Carregais.
Do meu avo paterno herdei o nome de Francisco que abominava que nos tratassem por Chico, dizia que este era o diabo, mas fosse ou nao, aquela cerejeira, encostada a uma figueira de figo preto, havia escapado a esta calamidade e o Farrusco, sabio, a encontrou.
Trepei por ela acima e foi um fartote para gaudio do meu companheiro, mas eis senao quando...
Mais esperto que os dois, aparace o meu avo, danadinho para uma valente tareira que remediasse a coisa.
O fim do mundo, pensei, pior quando vejo o Farrusco escondido por detras de um pinheiro. Aqui morro, tal pensei e por tal maldita cerejeira a bical, me encomendei ao meu destino final e de olhos fechados me rendi...

"As cerejas do Chico Balas
Comem se duas a duas
As que estao na barriga sao minhas
As da cerdeira sao suas".

Fui salvo pelo escarnio, mas se apanho o cobarde do Farrusco...

7 comentários:

  1. Xico,,que lindas tuas recordações e o modo como escrever tuas lembranças de vida! Valeu! abração,chica, lindo domingo!

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  2. que delícia de texto, flui com grande leveza e ao mesmo tempo é muito visual, parecia estar dentro da narrativa... abraço, bom domingo

    http://espiritosevangelizados.blogspot.com.br/

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  3. Xico, o nosso abraço...
    Um texto cheio de lembranças e travessuras dos dois amigos fiéis...
    Cerejas encontradas num bom tempo de aventuras sem fim...

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  4. Este ano, contam-se pelos dedos, não se vêm em "cacho", aqueles ramos carregadinhos que se cortam, pois dizem que a poda da cerejeira se faz na apanha!
    Mesmo havendo poucas, aqui ficam estas que o Farrusco encontrou na cerdeira dos Carregais para abrir o apetite e despertar a saudade de as apanhar da árvore e as comer duas a duas :) uhm maravilha!

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  5. Mas que guri, arteiro. hahaha
    assim nós passamos nossa infância, fazendo peraltices. Aqui nós roubávamos bergamotas na fazendo do Chico Vieira. Lá tinha as maiores frutas que em nossa casa.
    Que lindas essas cerejas.
    Abraços.
    Tenha um ótimo fim de semana.

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  6. Ah Farrusco que tiveste mais sorte que eu ! Saudades de cerejas rijas , ginjas ... Já nem sei ! Queria era que soubesses a cerejas ! Sabes! O teu dono ainda tem sorte . Parte em tua direção e lá apanha um cacho . Na minha aldeia só rapazes macacos lá chegavam ! Ficava danada ! Ver tao perto o inatingível e a saliva crescia , enquanto imaginava q estava a deliciar - me !
    Bem
    Farrusco e trás teu dono para apanhar as minhas cerejas ! Ah , e da - lhe um abraço !

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  7. Xico...seus textos são fantásticos!!!
    Bom fim de semana

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