domingo, 26 de outubro de 2014

No sino da minha aldeia

Daqui se diz quem casou
Daqui se diz quem morreu
Daqui se diz donde sou
Daqui se diz quem nasceu



Ele, o sino imponente, via a aldeia por entre colunas de granito.
Tinha a obrigacao de comunicar dor e felicidade.
O sino da minha aldeia.
Volta e meia vai tocando algumas coisas antigas, o sino da minha aldeia.
Por vezes olhamos para ele, mudo e calado.
 O que tem...
Talvez saudade do tempo em que acarretava gentes para a missa, aldeia inteira para apagar os fogos no "Ai Deus nos acuda...". 
Tocava no baptizado, os padrinhos bem vestidos, criancas imaculadas, botavam os pergaminhos de gentes simples e crentes, sempre fora com as nossas gentes. Dizia o sino da aldeia.
Repenicavam em dias festivos, Santa Marinha, Senhora dos Verdes. Nunca gostei dos Finados.
Os mortos nao mereciam tantas badaladas cruas...
E a gente para arreliar, menos homens que garotos, para ali iamos tocar, com o povo em alvoroco.
No sino da minha aldeia.

11 comentários:

  1. Adoro sinos e, realmente eles marcam nas cidades do interior as festas e as mortes! Lindo post! abração,chica

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  2. Xico,

    Uma das coisas que sinto falta aqui, é do badalo dos sinos nas Igrejas. Só ouvi uma vez, na Catedral do centro da cidade. Acredita?
    No Brasil, do meu apartamento, ouço o badalar dos sinos com lindas canções. Fico arrepiada só em lembrar, que ao meio dia, toca a Ave Maria.
    No interior também era parecido com os da sua Aldeia, não sei se ainda existe isso por lá.
    Lindo post. Amei!
    Uma abençoada semana! Obrigada pelo carinho no caso da Lalá.

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  3. Um texto muito bem escrito sobre a importância do sino da igreja numa aldeia.
    O sino fazia realmente parte intrínseca da vida da aldeia, nas aflições, nos nascimentos e apadrinhamentos, nas mortes.
    imagino que hoje a igreja , embora com as suas celebrações religiosas, não tenha já a afluência que nesse tempo teria...
    Um pouco nostálgico, mas é assim. :-)
    xx

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  4. Gostei de conhecer o Sino da Sua Aldeia, Xico! Os sinos falam e contam tantas histórias... Lembro do livro "Por Quem os Sinos Dobram"/Robert Jordan, muito bom!

    Lindo post!... Abraços

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  5. Que belo sons ele deve anunciar, para cada noticia um tom diferente. Que linda tradição. Essas são as belezas das cidades do interior, sua aldeia tem tudo que sonhamos para uma vida calme mais feliz.
    Tenha uma ótima semana.

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  6. Na nossa aldeia se há sons que ainda hoje são muito agradáveis, um deles é sem dúvida o dlão-balalão, dlão-balalão do sino da igreja a chamar para a missa ou para o terço…mas do sino a tocar sinais já não gosto :-(
    As badaladas do sino e do relógio da igreja paroquial, que dá horas de meia em meia hora, foram os sons que me custou mais deixar de ouvir quando vim para Lisboa em 1990.
    Só espero que nunca proíbam o toque dos sinos porque o barulho incomoda, pois o do relógio já incomoda e parece que já o desligam por várias horas!
    Já agora, a propósito, lembras-te bem que o toque dos sinos ouviam-se a alguns km de distância?! E nós (crianças) dizíamos, que:
    O de Dornelas tocava:
    Tem lêndeas, tem lêndeas, tem lêndeas
    O da Matela respondia:
    Tirai-las, tirai-las, tirai-las
    A sineta da Moradia tocando respondia tristemente:
    Com quê, com quê, com quê
    O sino de Forninhos arrematava:
    Com um martelão, com um martelão, com um martelão.

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  7. Boa noite Xico, acabou por fazer um excelente poema ao sino da sua aldeia!
    Os sinos das tristezas e das muitas alegrias, com toques pausados ou a rebate e até para convocar reuniões para dar noticias da guerra! Tristes! Aconteceu um dia, tinha 10 anos e marcou-me!
    O sino, um símbolo muito importante que deixa marcas indeléveis na alma de quem muito próximo dele habitou!
    Beijinhos,
    Ailime

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  8. Oi Xico!
    Achei lindo o seu poema, o badalá dos sinos deixam no ar um misto de romantismo e encantamento, pra mim pelo menos, que nas minhas férias no interior dos meus pais, sempre ouvia os sinos da igreja, convidando para a missa, para as novenas e também anunciando as horas. Adorei o post.
    Beijos!

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  9. Pois, amigo!
    Isso é na aldeia!
    Na cidade já ninguém os ouve...
    Um abraço!

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  10. Talvez por aqui, tendo tempo, comece uma escrita de algo que preparo e anseio.
    A partir destes toques que nos movem sentimentos, passados, presentes e futuros.
    Toques que para nao acredita, ditaram audacia e odisseias...pelo mundo.
    Num abraco feliz ou triste...

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  11. Amigo Xico,
    Excelente texto poético sobre o sino da tua aldeia! Gostei imenso.
    Sei que era assim, ainda hoje é, nas terras mais pequenas.
    Em algumas cidades, se estivermos atentos, ainda ouvimos o toque de um ou outro sino tímido... a chamar para a missa vespertina, a que já tão pouca gente assiste!...
    Tenho o privilégio de morar perto da universidade e todas as manhãs ouço a cabra da velha torre a chamar os alunos para as aulas. Esteve uns anos silenciosa, mas felizmente voltou a ser ouvida há já algum tempo. Também a ouço, nas tais ocasiões alegres ou tristes... como quando há um doutoramento ou morre algum estudante...
    Este teu belíssimo post lembrou-me uma quadra do poeta António Correia de Oliveira:

    " Sino, coração da aldeia,
    coração, sino da gente;
    um a sentir quando bate,
    outro a bater quando sente."

    Obrigada pelo comentário imbuído de carinho... deixado no casaquinho de bebé!
    Quando fores vovô avisa-me: faço um com muito gosto para um netinho!
    Bom fim de semana... apesar da chuva prevista.
    Beijinho

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