quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Vamos contar um conto...

Tinha tanta coisa naquela cabeca tonta de crianca, aventuras e desventuras que pensava que as podia escrever, embora escondido. Escondido pela malandrice, pois claro, feitas sem piedade e ainda por cima com o comparsa Farrusco, que me soltava a letra, mais a preceito que eu escrevia.
Boa dupla, um nem ladrava, rosnava, o outro nao escrevia, rasgava. 


Deixa Farrusco, ninguem sabe quem somos e tu ficas calado, por vezes acho que falas demais pois a partir de hoje vamos contar algumas das boas. Nao rias malandro...pior que eu!
Tu nao ajudavas nas tarefas maleficas, nao refiles, claro que ficavas de atalaia. Pronto!
Olha, vamos contar...
Daquela vez tinha caido um nevao la na aldeia. Melhor, continuava a cair e tinhamos mesmo assim de arreliar alguem e com as pessoas encolhidas em casa, nada melhor que o vizinho proximo e se melhor o pensamos, melhor o fizemos.
Para de me lamber Farrusco, parece que estas a reviver. Estamos velhos os dois, mas valeu a pena, caramba.
Enchemos e sem ninguem dar conta, na palheira um espantalho de palha que tinhamos roubado uns dias antes numa horta, com chapeu e tudo. O do meu pai e por ele paguei no lombo...
Nao te rias, rafeiro!
Colocamos o espantalho mesmo frente a porta de entrada do vizinho...ocultemos o nome, com um cordel amarrado aos pes, de modo a que um simples esticao o tombasse.
Era um daqueles dias de inverno, como poucos e o vizinho nem o galinheiro guardava, pudera as galinhas nao iam sair mas nos, como se tu fosses gente, enfim, podiamos la entrar e roubamos duas.
A neve ja nos chegava acima dos pes, patas para ti, nao te empertigues cao velho...
E chegou a coisa mais abominavel.
Ja tinha aprendido a colocar as galinhasa dormir, na boa.
Bastava embalar a senhora carinhosamente e levantar a asa direita e dentro dela enfiar a cabeca e depois, embalar, embalar...ja estava a sonhar com o galo...
Com a outra igual. Ambas deitadinhas na neve, mesmo em frente da porta de entrada do vizinho.
Farrusco, tu seguras o cordel e quando eu disser, puxas, agora vou atirar umas pedras na porta.
Tal foi. O dono abre a porta incomodado e ao ver as galinhas pensadas mortas, Deus nos acuda.
Tu Farrusco ficaste em euforia, parecia gostares e puxas o cordel e o nosso querido vizinho ao sentir que lhe vinha em cima um homem, desmaiou.
Ficamos por aqui e agora, Farrusco, pois se dissermos que veio o povo em peso...
Aquele nosso cantinho, ninguem descobre.

17 comentários:

  1. Tantas histórias que no contam os animais...
    Um forte abraço!

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    1. E quando tempos recuados tinham a liberdade de andar ao deus dara...
      Porcos pela rua, galinhas empoleiradas nos muros, burros espolinhados na sombra, todos na sua maneira contavam estorias.
      Obrigada e um abraco, Sr. Vieira.

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  2. rssss...Adorei o conto e as peripécias... Bem contado! abração,chica

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    1. Esta no meu Adn!
      Dizem que ja nao tenho idade para estas coisas, mas estou tentado a repetir, mesmo que passe vergonha...
      Beijo, Chica.

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  3. Depois de ler este conto, baseado nas aventuras de uma criança bem marota e do seu fiel comparsa, Farrusco, não fiquei na dúvida sobre qual seria o mais malandro, pois bem se vê pelo relato, embora actuassem como dupla, quem era o decisor das "patifarias"...:-)
    Gostei do episódio do espantalho com chapéu e tudo, o que demonstra criatividade e desejo de fazer as coisas bem, porque espantalho sem chapéu, não é espantalho não é nada! ...Já para nem falar da explicação de como se adormecem galinhas...:-) Pior foi o desmaio do vizinho.
    O seu conto, muito bem contado, fez-me sorrir.
    Ó Xico, mas isso foi mesmo verdade, ou é invenção?...De uma forma ou de outra, imaginação não lhe falta(va).
    Gostei muito.
    xx

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    1. O Farrusco e enquanto juntos, foi o meu fiel escudeiro, mas mais sagaz que o Sancho Panca. Era matreiro, mas sobretudo fiel, sendo que sabia que se as nossas velhaquices dessem para o torto, ele sempre se podia escapulir, o safado.
      Se ladrava,era sinal de um dia bom e de paz na aldeia, mas se rosnava, vinha aventura. Parecia entrar em depressao...
      Prometi ao Farrusco, aqui trazer algumas coisas nossas e tal farei em sua memoria, sendo que, amiga Laura, este foi real e narrada em tom comedido, pois o vizinho abriu a porta furibundo de machada erguida acima da cabeca e quando desmaia, o Farrusco de rabo entre as pernas, a ganir, fugiu para o nosso canto...e fui atras!
      Este episodio, deixe que diga, foi dos mais pacificos, imagine...
      Outros virao, coisas que ainda hoje aquando me encontram, comentam e dizem, faz uma das tuas... Mas falta ele e nao seria igual
      Por vezes ficava no pateo, obrigado, para nao comprometer o enredo.
      Vamos com calma para nao incomodar quem ja partiu e por milagre nao foi de coracao. Mas se calhar onde estao, ainda vao gostar.
      Beijos, Laura.

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  4. Xico, regalei-me com a tua história contada com ar de malandro, como sempre ;-) embora já ma tenhas contado uma vez...mas, que importa? Parabéns pelo conto que narras.
    Não conheci um Farrusco, pois no meu tempo baptizava-se mais os cães de "Snoopy", os meus pais até tiveram dois e foram bons companheiros. Hoje têm o "Sammy" e para arreliar os donos e vizinhos não há melhor!

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    1. E tantas outras, Paula!
      As gentes da nossa terra ainda hoje se riem com as minhas patifarias, se bem que uma ou outra menos dignas, tal como os coelhos da minha tia Augusta que Deus tem.
      O Farrusco era um pouco o icone da terra, mas mais asseado, pois andava sempre limpo e fidaldo, ao contrario das pessoas que nem lavavam a cara e para tirar a ramela dos olhos tinha de ser com alicate.
      Nao por falta de agua, mas de asseio.
      Nestas coisas e pelo que ouves volta e meia, as coisas eram bem feitas, talvez antecedendo um pouco os apanhados televisivos e mediaticos actuais.
      E aquela do saudoso tio Luis Catrino...
      Virei contar, pois apesar disso continuamos amigos, afinal com toda a gente que eu...gozei!
      Deixa que diga que esse actual cao dos teus pais de nome Sammy, tem pinta.
      E classe, pois nao ha sapato novo de senhora que lhe escape...

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  5. História cheia de aventuras emocionantes... Eita tempo bom, Xico!
    Criança inventa e se diverte muito!!
    Abraços

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    1. Talvez o problemas seja continuar a apetecer e inventar.
      Depois dizem * nao ganha juizo*
      Quero la saber...
      Beijos.

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  6. Xico,

    Não sei quem é mais levado. Se é você ou o Farrusco. Risos
    Muito legal ler suas histórias. Tirou vários sorrisos de meus lábios.
    Lindo e abençoado final de semana! Abraços

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    1. Juro que o culpado tem por nome Farrusco!
      Agora esta acomodado o safado, como quem diz que desta se safou...
      Que espere o troco!
      Beijos, Lucinha.

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  7. Boa tarde Xico, tive que rir e bem! Danadinho como dizem as nossas amigas do Brasil! Estou a imaginar acompanhado do seu Farrusco quantas histórias partilhadas e agora contadas no seu estilo tão peculiar, que fico a aguardar a próxima com imensa expectativa!
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Ailime

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    1. Coisas que reais, na nossa meninice apenas tinham por nome a aventura, mesmo que a neve tal comprometesse, noutras o calor do verao, mas nada que tivesse Stop!
      Ainda bem que gostou, Ailime.
      Beijinhos.

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  8. Alma de trinta diabos, como dizia a tua mãe. E o farrusco é que pagava as favas. Ainda bem que não passei a minha infância contigo, senão havia de ser bonito. Mas deves ter muitas histórias junto com o teu primo Luis Pego. Coisas de infância. Um abraço.

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    1. Com o meu primo Luis, tenho boas e mas...
      Nem sei se publique, tenho de falar (ladrar) com o Farrusco.
      *alma de trinta diabos*, ou mais...
      Por vezes, lembrando, tenho vergonha, mas logo a seguir desato a rir.
      Contigo devia ser bonito!
      Na proxima trago aquela do tio Luis C...
      Agora o Farrusco quer ir a rua.
      Abraco, amigao!

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  9. Deixa lá, que eu também fiz das boas mas, para mim, foram os melhores tempos da minha vida. Tinha que as pensar bem para não ser apanhado. Artimanha não me faltava. Que saudades! Belos tempos. Abração Xico.

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