sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Barco ao fundo na serra....

O linda Serra da Estrela
Toda coberta de neve
O nascente do Mondego
Que das agua a quem a pede


Agora posso rir por ter o direito de tal me apetecer e poder brincar com coisas vividas de formas estranhas aqui neste recanto, mas que exponho no meu modo vagaroso de tais poder tal desfrutar.
E rio com muita magoa a "alteza" de um seminario que poucos ou nenhuns padres "fabricou'. Eramos empurrados pela familia, pois tal era porventura mais importante ter um filho padre que medico. Valencia, as almas...
Gentes de Lisboa, ali com  raizes senhoriais herdadas, alinhavam os fedelhos com fraldas bem  cheirosas  apesar de mal largadas, contrariando o odor das ceroulas por vezes remendadas dos residentes nativos de aldeias circundantes cujos pais, simples e honrados lavradores e com dinheiros por vezes emprestados e empenhados,  dos pagavam o mesmo que os "meninos".
E os padres recebiam por acrescimo as "peitas" sob a forma de cabritos e queijos da serra, como se fossemos, como iamos no comboio, de segunda classe! Mas no regalo da gula, de primeira...
No primeiro dia senti o desiderato imberbe do mal desmamo que jamais os meus e outros pais considerariam no jogar as suas vidas e economias num projecto jamais considerado inocuo, mas serventis e agradecimentos de 'alguns" que por tal, levar um filho ao seminario, era uma benquerenca e favor divino.
Por la fiquei uns anos, meia duzia porventura, sendo que o que mais gostava e me alimentava o espirito, era o ser escuteiro e chegar a chefe da patrulha " Os Lobos".
No fim de semana e nos acampamentos, estava a minha espiritualidade, a minha terra vinha visitar as minhas saudades e reconfortava, fazendo esquecer aquele padre belga que me tentou assediar e lhe deixei um lanho bem cravado na cabeca. Os passos dolentes de freiras que iam desejar as boas noites aos superiores e os prefeitos apressados a desligar as luzes do silencio...
Falsidade e santa ignominia!
Um dia num acampamento junto da Lagoa Comprida, topo da Serra da Estrela, esqueci os ordenamentos do bem comportar e ser bom menino tal como os "ricos".
Na orla, tal como a da imagem, restava esqueletica e esventrada uma pequena barca que outrora deveria ser do guarda da barragem.
Metida dentro de agua, ainda se balanceava e por ali teria ficado, nao fossem os gritos de "Deus nos acuda" do padre e prefeitos, que apenas gritavam desvairados com receio de perder uma alma que nao a minha que ainda por aqui anda.
Tantos anos depois ainda me pergunto, como pode um barco afundar na serra?!!!

7 comentários:

  1. Xico,

    Rindo muito aqui da sua história.
    A imagem é linda.
    Não tenho ideia de como um barco pode afundar na serra. Talvez, algum menino que esqueceu o bom comportamento por alguns minutos. kkk
    Abraço apertado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ola Lucinha, boas noites daqui!
      Tambem rio de longe no tempo...
      Coisa reais que parecem vindas em sonhos , mas da porta real ao lado.
      Mas nao me posso armar em santo pelas serenatas para as meninas que iam para freiras... fui expulso por amor ao proximo.
      Grande abraco, minha amiga e bem haja pelo seu crinho.
      .

      Eliminar
  2. Entrar para um seminário não deve ter sido nada fácil, esse "desmame" familiar de que fala, e ter lá ficado 6 anos, significa toda a adolescência!..."Quem está dentro do convento é que sabe o que lá vai dentro", mas parece que a falsidade e ignomínia já vêm de longe! E há expulsões que deverão ser encaradas como uma benção!
    Com tudo se aprende, mas há coisas que nunca deveriam acontecer. Talvez um barco se possa afundar na serra, e afundou, tal como certas almas deveriam estar livres, pelo menos de certos pecados, se afundam.
    Achei um relato triste. Mas convém lembrar certas coisas.
    Bom fim de semana, Xico.
    xx

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Coisa que marcam e por tal o sinta triste. Partilhamos.
      Mas houve muita coisa boa e porventura piores que por enquanto vou "trabalhando" de modo subtil na cautela de saber que falar de "coisas sagradas", mexe com um "mundo" poderoso.
      Se um ia e tal espero, irei contar, como a freira destacada para Berlim Oriental se atirou da janela e morreu, ida daquela casa de fazer dinheiro...
      Mais nao adianto por enquanto e por tal na revolta e mesmo num barquito quebrado, o ter roubado da margem e quase com ele ir ao fundo...
      Mas adoro mais que tudo, as pedras da serra, com aqueles fantasmas de almas ...livres!

      Eliminar
  3. Ir para o seminário foi para muitas gerações o fim da meninice. Os padres e também a família, achavam que podiam traçar um caminho diferente com a ida dos filhos para o seminário, se fizermos uma sondagem, quase todos os que foram para o seminário, recordarão que seguiam esse caminho por influência de um padre amigo da família. O meu pai, inclusivé, também foi seminarista nesses moldes.
    Ainda bem que tu te "portaste mal" e deste a volta ao destino e com o decorrer dos anos muita coisa boa deves lembrar, os escuteiros e se bem me lembro o banjo e bandolim e o teatro em que corriam aldeias a convite dos párocos.

    ResponderEliminar
  4. Xico, vendo agora mais um pedacinho da sua história... Foram capítulos mesmo marcantes! A gente vê coisas assustadoras e sinistras neste mundo! Arre, tantas decepções e incoerências, não é mesmo?! Mas, "sacudiu a poeira" e prosseguiu de uma maneira emocionante...
    Bonita foto e reflexões muitas...
    O meu abraço...

    ResponderEliminar